26.4.07

A carta do padre João Caruana

Paróquia São Silvestre
Jardim São ilvestre
Maringá
22 de Abril 2007

Prezado Prefeito Silvio Barros,

Quinta Feira passada fui chamado para participar num Ato Publico contra as demissões. Por sendo uma pessoa que sempre trabalhei com a Pastoral Operaria e Pastoral da Terra, e acompanhei a greve de perto eu me fiz presente no Ato. O Sindicato nos convidaram também para enviar ao Senhor o nosso apoio aos grevistas no sentido para que os trabalhadores e trabalhadoras não sejam demitidos - nem grevistas participantes e nem as lideranças.
Em breve eu quero deixar com o Senhor duas citações:
1) A primeira citação e´ do capitulo 5 versículo 4 da carta de São Tiago que diz:
“Vejam o salário dos trabalhadores que fizeram a colheita nos campos de vocês: retido por vocês, esse salário clama, e os protestos dos cortadores chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos”. .
Aqui Tiago está lembrando o Deuteronômio capitulo 24 versículos 14-15 que trata da Justiça no Trabalho que diz:
“Não explore um assalariado pobre e necessitado, seja ele um de seus irmãos ou imigrante que vive em sua terra, em sua cidade. Pague-lhe o salário de cada dia, antes que o sol se ponha, porque ele é pobre e sua vida depende disso. Assim, ele não clamará a Javé contra você, e em você não haverá pecado”
(Entre nós, Prezado Prefeito, além da polemica presente, é interessante notar que na Palavra de Deus, há milênios, já tinha idéias claras sobre a problemática do salário, no sentido que e´ um algo que deve ser tratado com delicadeza e clareza total – idéias claras que se contrasta com o fundamentalismo religioso que hoje, e solto na praça, que muitas vezes, coloca DEUS contra os grupos sociais)
2) A segunda citação e´ mais perto a nos, no tempo e no assunto em questão hoje! É fruto da reflexão da igreja sobre o sentido social da Palavra de Deus! É ensino do Papa João Paulo II na Encíclica “Laborem Exercens”, que no capitulo IV ele fala dos Direitos dos Homens do Trabalho, e no parágrafo 20 da “Importância dos Sindicatos”.
Ele chama atenção dos cuidados que os sindicatos devem tomar, tais como, quando diz “que as exigências sindicais não podem transformar-se numa espécie de egoísmo de grupo ou de classe”, e “admitindo que se trate de um meio legitimo.... (a greve) não se pode abusar dele” (Ente nós, Prezado Prefeito, quando vê o holerite dos garis,como do Senhor Luis Steinle que exibiu o seu holerite, durante o ato publico – nem tampouco dos professores e outros funcionários e funcionárias, tira toda sombra de dúvida sobre a legitimidade da greve do SISSMAR. Ao contrário eu lembro do SISSMAR quando o Sumo Pontífice diz: “eles – os sindicatos- são sim, um expoente da luta pela justiça social, pelos justos direitos dos homens do trabalho segundo as suas diversas profissões. No entanto esta “luta” deve ser compreendida como um empenhamento normal das pessoas “em prol’ do justo bem: no caso, em prol de bem que corresponde ás necessidades e aos méritos do trabalho, associados segundo as suas profissões; mas não é uma luta “contra” os outros.
Agora quando o Sumo Pontífice fala do direito da greve, o Papa coloca a questão num modo bem categórico:
“E‘ um modo de proceder- a greve - que a doutrina social católica reconhece como legítimo, observadas as devidas condições e nos justos limites.
“ Em relação a isto, os trabalhadores deveriam ter assegurado o direito á greve sem terem de sofrer sanções penais pessoais por nela participarem”.
Estou escrevendo ao Senhor, no intuito que eu não posso me omitir da minha lealdade aos trabalhadores e trabalhadoras ameaçados – trabalhadores e lideranças – neste momento difícil da vida deles , e do outro lado de deixar de colocar o ensino da Sagrada Escritura e do Magistério da Igreja para a reflexão do Senhor Prefeito.
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Pe. João Caruana
P.S. Estou enviando uma copia ao meu bispo Dom Anuar Battisti, e aos colegas padres que defenderam na época a importância do diálogo.