4.4.07

Um cão andaluz

Por ANDYE IORE

Ontem foi um daqueles dias que lamentei muito não sair com a minha filmadora. Se estivesse com ela, teria gravado uma comédia com grandes chances de ser premiada em algum festival do riso.
A noite foi agitada na Câmara de Vereadores. Primeiro começou com a apresentação do secretário municipal de saúde, Antônio Carlos Nardi, sobre o trabalho da prefeitura no combate e prevenção à dengue na cidade. Depois, a audiência pública sobre a Lei Seca. Seguiram diversas trapalhadas e cenas surreais que fazem frente ao filme “Um Cão Andaluz” (*).
Os vereadores fizeram perguntas após a apresentação de Nardi. O vereador Zebrão perguntou o motivo do fumacê não ser lançado por avião e aí começou o desfile de pérolas...
Umberto Becker parece mais preocupado com a cidade de Curitiba que o local onde mora e trabalha. Ele perguntou sobre a dengue na capital paranaense e, para piorar, quais os medicamentos indicados no caso da doença... pelo jeito, o vereador não lê jornais, não assiste televisão...
O próximo capítulo foi de Chico Caiana, que fazia parte da mesa. Durante uma votação em aberto - onde deveria simplesmente dizer sim ou não - respondeu presente ao ouvir seu nome sendo chamado para votar. Por falar em mesa, o presidente do Legislativo, John Alves, abriu a sessão, fez uma pergunta e foi embora. Nas duas últimas vezes que acompanhei a sessão, em uma ele também saiu e em outra ficava atendendo o telefone a todo momento.
A próxima piada foi mais coletiva. Umberto Becker sugeriu que os projetos de primeira discussão e os requerimentos fossem retirados de pauta por uma sessão para agilizar a sessão para que a audiência pública pudesse começar.
Abriu-se votação e, depois da aprovação, era vereador pedindo para retirar os requerimentos de novo, outro dizendo que não sabia que tinha votado para tal fim, entre outras manifestações de confusão.
Mas, o melhor estava para o capítulo final. Após as diversas manifestações de representantes de entidades, abriu-se a fala para o público sobre a polêmica Lei Seca. Um pastor comentou sobre as emendas propostas pelos vereadores, dizendo que algumas podiam melhorar, mas outras visavam inviabilizar a lei.
Isso revoltou o vereador Mário Hossokawa que, prontamente, pediu a palavra.
Bravo, questionou a citação do pastor e, como uma cena bem ensaiada, discursou latentemente que retiraria suas emendas e votaria contra o projeto. Mas, o projeto não estava em votação e sim apenas sendo debatido.
Ou seja, mais uma indicação de que há algo de podre no Reino da Camaralândia...

* filme francês de 1929, de Luis Buñuel e Salvador Dali, que é um marco do movimento cultural surrealismo, genial para quem gosta de filmes cult, repleto de cenas absurdas para quem não gosta de cinema.