4.5.07

Jornalismo de oportunidade

Por ELIAKIM ARAÚJO

A liberdade de imprensa tem algum limite ou o colunista (jornalista ou não)goza do privilégio de escrever ou dizer o que bem entende, mesmo que isso signifique ofensa à honra de uma pessoa?
A pergunta vem a propósito do comentário do cineasta Arnaldo Jabor, que escreve colunas para jornais e rádios, do grupo Globo. No dia 24 de abril último, na Rádio CBN, o colunista, com base em números divulgados pelo jornal O Estado de São Paulo, conclui que o reembolso de despesas de combustíveis é uma forma indireta usada pelos deputados para aumentar seus vencimentos.
Até aí tudo bem, apesar de não ser ética e jornalísticamente saudável tirar-se conclusões a partir de números que ele não apurou. O que incomodou o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, que ameaça processar o cineasta/colunista, foi o fato dele ter chamado todos os deputados de “canalhas”, uma vez que a prática do reembolso de despesas com combustível é uma norma que beneficia a todos indistintamente. Jabor perguntou literalmente em seu comentário: “quando é que vão prender esses canalhas”.
Na verdade, Arnaldo Jabor, que se auto-define "como uma das personalidades mais polêmicas da imprensa brasileira", dedicou três décadas de sua vida ao cinema (informações encontradas em seu site oficial). De repente virou comentarista de TV, ou melhor da TV Globo. Criou uma personalidade televisiva com um tipo de comentário meio histriônico, que agrada à boa parte da população, aquela que por um motivo ou outro está insatisfeita com os nossos políticos. É o que se pode chamar de jornalismo de oportunidade, muito em moda ultimamente. Volta e meia seus comentários viram corrente na internet, com encaminhamentos do tipo “vejam que absurdo” ou “espalhem para a sua lista”. Apesar dessa simpatia de ocasião que seus comentários despertam, nunca se esclareceu porque ele foi defenestrado do Jornal Nacional.
Penso que aos formadores de opinião (jornalistas ou não) cabe a responsabilidade de prover o cidadão comum de informações (e opiniões) que lhe permitam entender o que acontece nos bastidores dos poderes. São muitos os erros, por ação ou omissão, dos nossos parlamentares. Como em qualquer segmento da sociedade, há ovelhas negras também no Parlamento. Gente que procura fórmulas para aumentar seu salário, que beneficia parentes e amigos, que se envolve com a corrupção ativa e passiva, etc. etc. etc. Mas nem por isso podemos afirmar que todos os deputados sejam “canalhas”. Que o povão nas ruas diga que “todo político é ladrão” é uma coisa. Agora, a mesma coisa dita por um formador de opinião, numa mídia poderosa, como são as emissoras do Grupo Globo, tem outro peso e outra responsabilidade penal.
Por que Jabor e outros colunistas da moda não usam o precioso espaço de que dispõem para orientar seus leitores a escolherem melhor seus representantes, a se unirem em associações para fiscalizar os políticos e cobrar deles soluções para os graves problemas nacionais, enfim transformando-os em cidadãos completos e conscientes de seus direitos?
Não venham, por favor, acusar-me de censurar ou de querer podar o exercício da livre opinião, mas estou piamente convencido de que Jabor errou. Ultrapassou os limites da liberdade que lhe é concedida por seus patrões. Quando ele chamou todos os 512 deputados de “canalhas” ou perguntou “quando é que a polícia federal vai encanar essa gente” ele incorreu em algum tipo de delito penal. Não só ele, como o veículo que lhe abriu o espaço para tal.
A pergunta que se faz agora é: terá a mesa da Câmara peito para processar o cineasta/colunista ou vai se acomodar, como acontece em momentos de dificuldade? Façam suas apostas.

Via Direto da Redação