28.6.07

Diálogo para a construção da paz

Por LUIZ ALEXANDRE SOLANO ROSSI

O diálogo entre as religiões deve ser entendido como um imperativo e um desejo de se construir uma cultura de paz entre os homens e mulheres de boa-vontade. A partir do diálogo abrimos nossos mundos para conhecer outros mundos – tão belos quanto os nossos. O diálogo nos ajuda a espantar o medo e permite que reconheçamos uns aos outros como membros de uma mesma comunidade humana.
Somos plurais. E é exatamente na pluralidade que se reforçam os traços de identidade de cada religião. Na diversidade tecemos a teia da solidariedade que nos une numa grande fraternidade.
Reconhecer o pluralismo religioso não constitui uma patologia ou decadência, mas um dado positivo da realidade. Pode-se dizer que cada expressão religiosa revela algo do mistério de Deus e nenhuma pode pretender possuir qualquer monopólio, nem da revelação nem dos meios de salvação. A graça e o propósito salvador de Deus perpassam toda a realidade e são oferecidos a todos.
A diversidade de religiões apresenta-se como fatos e valores a serem apreciados, pois são manifestações do humano e da experiência religiosa da humanidade.
Mas qual o valor que damos a essa diversidade? Penso que as religiões são formas diferentes de expressar o mistério e, por isso, devemos aprender uns dos outros, nos enriquecermos com as trocas, os diálogos e as buscas de convergências, em vista do serviço espiritual dos povos, alimentando neles a chama sagrada da presença de Deus que está na história e no coração de todos.
Mas para isso é preciso romper com alguns paradigmas. E o principal deles é o inclusivismo, isto é, quando penso que há, sim, outras religiões, mas todas elas inferiores, talvez naturais desejos humanos de procurar a Deus, ou seja, “crenças” religiosas que não chegam à altura da “fé” que só uma determinada religião possuiria e, consequentemente, todas as outras religiões seriam chamadas a ser incluídas numa só confissão religiosa.
É chegado o tempo do diálogo. No entanto, não se dialoga sem a clareza da própria identidade. Não se dialoga sem abertura ao diferente que exige discernimento. A mentalidade fundamentalista e presa a ortodoxias não permite o estabelecimento de nenhum diálogo. O verdadeiro diálogo é um diálogo entre pessoas quando estas começam a conviver, comparando suas religiões e influenciando-se mutuamente de forma inevitável. Por isso, todo diálogo é risco porque questiona, desequilibra todas as partes e as obriga a reformular seu modo de viver e de pensar. Nesse sentido, todas as religiões são provocadas, no diálogo, a se transformar permanentemente a fim de prestar um melhor serviço à humanidade.
Tornamo-nos plenamente humanos quando respeitamos aqueles que são diferentes e, mesmo na diferença, nos assentamos para viver fraternal e solidariamente na construção de uma sociedade que nos abriga e que nos solicita que sejamos operários desse mundo ainda em construção.
Entendo que as religiões não são um obstáculo para a construção de uma sociedade justa, humana e inclusiva. Ao contrário, a partir delas deveríamos nos ver como homens e mulheres que se vêem e vêem a sua sociedade com um outro olhar.
Contudo, não mais um olhar que observa de longe. Não mais um olhar que se desvia com medo do encontro. Não mais um olhar que congela o calor do corpo. Mas um olhar que transmita o brilho de um novo tempo que se aproxima para todos nós. Uma maneira de ver a nossa sociedade e a todos nós como participantes de um mesmo corpo, a procura dos mesmos ideais.
Juntos, temos condições de sonhar com um mundo inclusivo e onde caibam todos. Separados, criamos ilhas que nos impedem de agir eficazmente na construção de um outro mundo possível.
Sonho com uma cultura de paz e de tolerância. Uma cultura onde nossos olhos vislumbram a construção de um novo homem e uma nova mulher. Onde nossas mãos antecipam ações e atitudes que embelezem nosso cotidiano. Onde nossa espiritualidade gestamo a solidariedade e a ética entre os seres humanos e a proteção do meio ambiente.
Cristãos (católicos e evangélicos), muçulmanos, budistas, bahais, umbanda e candomblé reunidos precisam colocar suas expressões de espiritualidade a fim de estimular ações e comportamentos que visem a construção de uma sociedade mais humana. Creio que Deus não pergunta se uma pessoa é muçulmana, budista, cristã ou afro. Isso não lhe interessa. Deus deseja saber quem está envolvido no serviço para a libertação de um pecado imenso da humanidade que é a dominação do homem sobre o homem e sobre o meio-ambiente.
Compreendo, refletindo a partir de Marcuse, que a expansão do mundo da beleza, da não violência e da paz exige uma ação solidária entre as religiões. Contudo, não se trata de converter a abominação em beleza, de esconder a miséria, de desodorizar o mau cheiro, de florir as prisões; não se trata de purificar a sociedade existente, mas de substituí-la.

Prof. Dr. Luiz Alexandre Solano Rossi