Eu quero saber de tudo
Por DIOGO MAINARDI
“A política brasileira é repulsiva. A gente deveria punir os políticos arruinando sua vida particular. Ao contrário do que se diz, não há nada de errado nisso”
Um delegado da Polícia Federal, citado por O Globo, definiu Vavá como “um cara simples, quase analfabeto, que enrola as pessoas”. Eu diria que ele possui todos os predicados para suceder ao presidente da República. Vavá 2010.
Dois anos atrás, quando VEJA publicou que Vavá intermediou encontros sigilosos no Palácio do Planalto entre homens de negócios e o principal assessor de Lula, Gilberto Carvalho, ninguém deu bola para o assunto. Por algum tempo, os oposicionistas ameaçaram convocar Vavá e Gilberto Carvalho à CPI dos Bingos, mas acabaram desistindo com o argumento de que a vida particular do presidente deveria ser mantida longe da luta política.
Lula tem direito a uma vida particular? Renan Calheiros tem direito a uma vida particular? Algum político tem direito a uma vida particular? A imprensa acredita que sim. Mais do que isso: a imprensa acredita que pode determinar o que é um fato de interesse particular e o que é um fato de interesse público. Se um político tem um filho fora do casamento, a imprensa o considera um fato de interesse particular. Ela só passa a considerá-lo um fato de interesse público quando uma empreiteira paga suas contas.
Os jornalistas conhecem a intimidade dos políticos. Eles ficam a maior parte do tempo bisbilhotando os detalhes mais sórdidos sobre essa gente. Mas só publicam o que, para eles, estamos aptos a entender. A imprensa atribuiu-se um papel civilizador. Ela argumenta que é uma selvageria julgar um político a partir de seus hábitos privados. Por isso, sonega sistematicamente qualquer notícia a esse respeito.
Eu nunca me escandalizo com o comportamento dos outros. Mas me recuso a aceitar que a imprensa imponha seus valores omitindo os fatos. Se um senador é adúltero, eu quero saber. Se uma ministra dormiu com um presidente, eu quero saber. Se a mesma ministra traiu o marido com um líder oposicionista, eu quero saber. Depois concluo do jeito que quiser.
Os brasileiros acham que o fetiche da imprensa americana pela vida amorosa dos políticos é um sinal de jequice. Eu acho que jequice é delegar a um repórter de uma sucursal de Brasília a escolha sobre o que eu devo ou sobre o que eu posso saber. Os políticos precisam se sentir permanentemente vigiados. Quando a imprensa acoberta seus deslizes privados, termina por acobertar também seus crimes públicos.
A política brasileira é repulsiva. A gente deveria punir os políticos arruinando sua vida particular. Ao contrário do que se diz, não há nada de errado nisso. Se as aventuras sexuais de Marco Antônio foram relatadas pelos romanos, por que os brasileiros não haveriam de relatar as de Renan Calheiros? Renan Calheiros está para Marco Antônio assim como o Brasil está para a Roma Antiga. Marco Antônio 2010. Renan Calheiros 2010.
“A política brasileira é repulsiva. A gente deveria punir os políticos arruinando sua vida particular. Ao contrário do que se diz, não há nada de errado nisso”
Um delegado da Polícia Federal, citado por O Globo, definiu Vavá como “um cara simples, quase analfabeto, que enrola as pessoas”. Eu diria que ele possui todos os predicados para suceder ao presidente da República. Vavá 2010.
Dois anos atrás, quando VEJA publicou que Vavá intermediou encontros sigilosos no Palácio do Planalto entre homens de negócios e o principal assessor de Lula, Gilberto Carvalho, ninguém deu bola para o assunto. Por algum tempo, os oposicionistas ameaçaram convocar Vavá e Gilberto Carvalho à CPI dos Bingos, mas acabaram desistindo com o argumento de que a vida particular do presidente deveria ser mantida longe da luta política.
Lula tem direito a uma vida particular? Renan Calheiros tem direito a uma vida particular? Algum político tem direito a uma vida particular? A imprensa acredita que sim. Mais do que isso: a imprensa acredita que pode determinar o que é um fato de interesse particular e o que é um fato de interesse público. Se um político tem um filho fora do casamento, a imprensa o considera um fato de interesse particular. Ela só passa a considerá-lo um fato de interesse público quando uma empreiteira paga suas contas.
Os jornalistas conhecem a intimidade dos políticos. Eles ficam a maior parte do tempo bisbilhotando os detalhes mais sórdidos sobre essa gente. Mas só publicam o que, para eles, estamos aptos a entender. A imprensa atribuiu-se um papel civilizador. Ela argumenta que é uma selvageria julgar um político a partir de seus hábitos privados. Por isso, sonega sistematicamente qualquer notícia a esse respeito.
Eu nunca me escandalizo com o comportamento dos outros. Mas me recuso a aceitar que a imprensa imponha seus valores omitindo os fatos. Se um senador é adúltero, eu quero saber. Se uma ministra dormiu com um presidente, eu quero saber. Se a mesma ministra traiu o marido com um líder oposicionista, eu quero saber. Depois concluo do jeito que quiser.
Os brasileiros acham que o fetiche da imprensa americana pela vida amorosa dos políticos é um sinal de jequice. Eu acho que jequice é delegar a um repórter de uma sucursal de Brasília a escolha sobre o que eu devo ou sobre o que eu posso saber. Os políticos precisam se sentir permanentemente vigiados. Quando a imprensa acoberta seus deslizes privados, termina por acobertar também seus crimes públicos.
A política brasileira é repulsiva. A gente deveria punir os políticos arruinando sua vida particular. Ao contrário do que se diz, não há nada de errado nisso. Se as aventuras sexuais de Marco Antônio foram relatadas pelos romanos, por que os brasileiros não haveriam de relatar as de Renan Calheiros? Renan Calheiros está para Marco Antônio assim como o Brasil está para a Roma Antiga. Marco Antônio 2010. Renan Calheiros 2010.
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