O (DES)GOVERNO REQUIÃO E AS UNIVERSIDADES PÚBLICAS ESTADUAIS DO PARANÁ: ENTRE O BOLCHEVISMO E A GESTAPO
Por MARCOS CESAR DANHONI NEVES
“só existem dois dias em que nada podemos fazer: o ontem e o amanhã.”
Mahatma Gandhi
As Universidades Públicas do Estado do Paraná receberam, sem grande surpresa ou estupefação, já que habituadas às loucuras de plantão, a mais um decreto estapafúrdio do governador e dublê de imperador, Roberto Requião de Mello & Silva, que ordena:
“Fica sujeito à prévia e expressa autorização [sic – Sieg Heil!] do Estado a formalização de acordos, convênios ...
“Fica vedado (...) o afastamento de servidores civis (...) para participação em cursos, seminários, congressos, programas, palestras, elaboração de teses e dissertações, de estágio técnico supervisionado, ou outras atividades de ensino.” [decreto 848 – de 16/05/2007 – publicado no Diário Oficial n. 7472, de 16/05/2007]
Esse decreto, baseado no antigo código de Hammurabi (mais conhecido como “Lei do Talião), se soma a outro que praticamente impede a saída de docentes/pesquisadores para atividades de pesquisa no exterior.
O dublê de imperador no Paraná é exímio em desrespeitar leis e/ou usá-las segunda sua hermenêutica muito particular. Rasgou a Lei 11.713 (de 07/05/1997), coincidentemente no aniversário de seu decênio, destruindo vários artigos da carreira do magistério superior (um exemplo: o art 3º , inciso IV, que estabelece um degrau salarial entre Professor Associado e Titular de 20%, está hoje reduzido a menos de 9,8%).
O objetivo do decreto é claro: inibir o deslocamento de professores-pesquisadores, destruindo a produção científica e cultural produzida nas Universidades Públicas do Paraná, reduzindo-as a meros escolões de ensino de terceiro grau, nivelando-as às instituições privadas de suposto ensino superior
Enquanto escrevia essas mal-traçadas linhas, telefonava para um colega da UNESP que, naquele momento, estava em Assembléia da categoria docente para deflagrar a greve junto com seus colegas da USP e UNICAMP. Ele afirmou que a decisão era de entrar em greve imediatamente para, segundo suas palavras, “não terminarmos como vocês aí no Paraná. Vocês são referência negativa para todo o país!”. Depois, prosseguiu dizendo que a política do governador José Serra tinha sido copiada do projeto de destruição do Ensino Superior do governador Roberto Requião de Mello e Silva (clonado do projeto de seu antecessor, Jaime Lerner). Assim, os governos-amigos do PSDB e do PMDB irmanavam-se na dissolução de ideologias e na vontade inabalável da destruição de patrimônios públicos que não lhes pertencem.
Ao decreto requiânico, que praticamente proíbe o deslocamento nacional de professores para fins acadêmicos de suas sedes, o reitor da Universidade Estadual de Maringá, convocou seus pró-reitores, na presença de dirigentes de classes (Associação Docente e Sindicato), para declarar letra-morta o documento abusivo do governador. Esperamos que os demais reitores tomem decisões corajosas semelhantes.
O decreto do governador recapitula, pois, dois extremos da loucura política mundial. Se Requião de Mello e Silva pensa-se um “homem de esquerda”, como freqüentemente afirma, então ele recapitula o bolchevismo stalinista em seu período mais abusivo de fuzilamentos e gulags. Se não é de esquerda, mas nacionalista, então ele recapitula o outro extremo, o do nacional-socialismo das décadas de 30 e 40 na Alemanha (quando será exarado novo decreto para a queima de livros?!?).
O deslocamento de professores e pesquisadores do Paraná depende agora de uma espécie de passaporte interno, um “deixa-passar”, como nos tempos odiosos da Gestapo. À esse quadro só falta a obrigatoriedade do Governador, num novo decreto, em instituir na entrada de nossas universidades um out-door com os dizeres: “Arbeit macht Frei” (“O trabalho faz a liberdade”), colocado inicialmente, de forma lúgubre, nos portões de entrada do complexo de extermínio Auschwitz-Bikernau [quem será encaminhado para a esquerda ou para a direita?!?]
Sair dos muros da Academia hoje no Paraná transformou-se quase no “ofício do prisioneiro”, ou seja, no ofício de confeccionar “terezas” (cordas feitas a partir de lençóis amarrados) e pular a muralha que o governo ergueu para tentar nos conter.
A nova ideologia nacional-bolchevique-socialista requiânica só está sendo possível porque seus asseclas, docentes saídos do interior das próprias universidades públicas do Estado, e, agora, transformados em nossos algozes (algo como o papel de Goebbles e Eichmann), instituem a implantação de uma política claramente fascista. A continuar assim, é de se esperar a instituição de uma polícia-política-do-Estado para caçar e cassar docentes “evadidos” no cumprimento do dever.
Fico imaginando aqui a verdade por trás de cada decreto espúrio exarado pelo governador, tal qual o famigerado 848. Seria um exercício enigmático de numerologia? Algo, assim, “rasputiniano”: “o número 8 poderia ser considerado aquele que sucederia o número cabalístico, suplantando-o pela unidade e intermeado por sua metade, 4: meio e fins unidos”. Ou se trataria, na verdade, do governador estar sendo assessorado por pessoas interessadas explicitamente no sufocamento da ciência e da cultura produzidas no interior das Universidades Públicas do Estado do Paraná, deixando a “big science” restrita à sua produção na capital?!?
Em se conhecendo as tresloucadas ações de nosso dublê de imperador, não é de se espantar que seja um mix das duas coisas apontadas acima.
A imposição, pelo governador, de um “deixa-passar” gestapiano, aliado ao seu universo visionário às avessas (por exemplo, quando ele acredita que foi reeleito por 100 a zero nos votos da última eleição...), está reduzindo, a passos largos, a participação paranaense da produção científica na região sul do país (hoje de 25% quando comparados aos outros Estados da União – o Paraná responde por menos de 8%, segundo dados do MEC).
Diante de quadro tão desalentador e surreal só nos resta, agora, a resistência. Se capitularmos, só nos restará, então, escapar pela fumacinha do “Arbeit macht Frei” expelida pelas chaminés de nossas fábricas requiânicas da morte acadêmica.
Marcos Cesar Danhoni Neves
(Secretário Regional da SBPC-PR)
“só existem dois dias em que nada podemos fazer: o ontem e o amanhã.”
Mahatma Gandhi
As Universidades Públicas do Estado do Paraná receberam, sem grande surpresa ou estupefação, já que habituadas às loucuras de plantão, a mais um decreto estapafúrdio do governador e dublê de imperador, Roberto Requião de Mello & Silva, que ordena:
“Fica sujeito à prévia e expressa autorização [sic – Sieg Heil!] do Estado a formalização de acordos, convênios ...
“Fica vedado (...) o afastamento de servidores civis (...) para participação em cursos, seminários, congressos, programas, palestras, elaboração de teses e dissertações, de estágio técnico supervisionado, ou outras atividades de ensino.” [decreto 848 – de 16/05/2007 – publicado no Diário Oficial n. 7472, de 16/05/2007]
Esse decreto, baseado no antigo código de Hammurabi (mais conhecido como “Lei do Talião), se soma a outro que praticamente impede a saída de docentes/pesquisadores para atividades de pesquisa no exterior.
O dublê de imperador no Paraná é exímio em desrespeitar leis e/ou usá-las segunda sua hermenêutica muito particular. Rasgou a Lei 11.713 (de 07/05/1997), coincidentemente no aniversário de seu decênio, destruindo vários artigos da carreira do magistério superior (um exemplo: o art 3º , inciso IV, que estabelece um degrau salarial entre Professor Associado e Titular de 20%, está hoje reduzido a menos de 9,8%).
O objetivo do decreto é claro: inibir o deslocamento de professores-pesquisadores, destruindo a produção científica e cultural produzida nas Universidades Públicas do Paraná, reduzindo-as a meros escolões de ensino de terceiro grau, nivelando-as às instituições privadas de suposto ensino superior
Enquanto escrevia essas mal-traçadas linhas, telefonava para um colega da UNESP que, naquele momento, estava em Assembléia da categoria docente para deflagrar a greve junto com seus colegas da USP e UNICAMP. Ele afirmou que a decisão era de entrar em greve imediatamente para, segundo suas palavras, “não terminarmos como vocês aí no Paraná. Vocês são referência negativa para todo o país!”. Depois, prosseguiu dizendo que a política do governador José Serra tinha sido copiada do projeto de destruição do Ensino Superior do governador Roberto Requião de Mello e Silva (clonado do projeto de seu antecessor, Jaime Lerner). Assim, os governos-amigos do PSDB e do PMDB irmanavam-se na dissolução de ideologias e na vontade inabalável da destruição de patrimônios públicos que não lhes pertencem.
Ao decreto requiânico, que praticamente proíbe o deslocamento nacional de professores para fins acadêmicos de suas sedes, o reitor da Universidade Estadual de Maringá, convocou seus pró-reitores, na presença de dirigentes de classes (Associação Docente e Sindicato), para declarar letra-morta o documento abusivo do governador. Esperamos que os demais reitores tomem decisões corajosas semelhantes.
O decreto do governador recapitula, pois, dois extremos da loucura política mundial. Se Requião de Mello e Silva pensa-se um “homem de esquerda”, como freqüentemente afirma, então ele recapitula o bolchevismo stalinista em seu período mais abusivo de fuzilamentos e gulags. Se não é de esquerda, mas nacionalista, então ele recapitula o outro extremo, o do nacional-socialismo das décadas de 30 e 40 na Alemanha (quando será exarado novo decreto para a queima de livros?!?).
O deslocamento de professores e pesquisadores do Paraná depende agora de uma espécie de passaporte interno, um “deixa-passar”, como nos tempos odiosos da Gestapo. À esse quadro só falta a obrigatoriedade do Governador, num novo decreto, em instituir na entrada de nossas universidades um out-door com os dizeres: “Arbeit macht Frei” (“O trabalho faz a liberdade”), colocado inicialmente, de forma lúgubre, nos portões de entrada do complexo de extermínio Auschwitz-Bikernau [quem será encaminhado para a esquerda ou para a direita?!?]
Sair dos muros da Academia hoje no Paraná transformou-se quase no “ofício do prisioneiro”, ou seja, no ofício de confeccionar “terezas” (cordas feitas a partir de lençóis amarrados) e pular a muralha que o governo ergueu para tentar nos conter.
A nova ideologia nacional-bolchevique-socialista requiânica só está sendo possível porque seus asseclas, docentes saídos do interior das próprias universidades públicas do Estado, e, agora, transformados em nossos algozes (algo como o papel de Goebbles e Eichmann), instituem a implantação de uma política claramente fascista. A continuar assim, é de se esperar a instituição de uma polícia-política-do-Estado para caçar e cassar docentes “evadidos” no cumprimento do dever.
Fico imaginando aqui a verdade por trás de cada decreto espúrio exarado pelo governador, tal qual o famigerado 848. Seria um exercício enigmático de numerologia? Algo, assim, “rasputiniano”: “o número 8 poderia ser considerado aquele que sucederia o número cabalístico, suplantando-o pela unidade e intermeado por sua metade, 4: meio e fins unidos”. Ou se trataria, na verdade, do governador estar sendo assessorado por pessoas interessadas explicitamente no sufocamento da ciência e da cultura produzidas no interior das Universidades Públicas do Estado do Paraná, deixando a “big science” restrita à sua produção na capital?!?
Em se conhecendo as tresloucadas ações de nosso dublê de imperador, não é de se espantar que seja um mix das duas coisas apontadas acima.
A imposição, pelo governador, de um “deixa-passar” gestapiano, aliado ao seu universo visionário às avessas (por exemplo, quando ele acredita que foi reeleito por 100 a zero nos votos da última eleição...), está reduzindo, a passos largos, a participação paranaense da produção científica na região sul do país (hoje de 25% quando comparados aos outros Estados da União – o Paraná responde por menos de 8%, segundo dados do MEC).
Diante de quadro tão desalentador e surreal só nos resta, agora, a resistência. Se capitularmos, só nos restará, então, escapar pela fumacinha do “Arbeit macht Frei” expelida pelas chaminés de nossas fábricas requiânicas da morte acadêmica.
Marcos Cesar Danhoni Neves
(Secretário Regional da SBPC-PR)
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