6.6.07

Os pioneiros, as árvores e o tempo

Por MARCOS CAPELLAZZI

Deparei-me com o artigo "Árvores que caem", do pioneiro e um dos primeiros industriais de Maringá, Emílio Germani, na Revista Tradição nº 291, p. 10, publicada por outro pioneiro, editor Jorge Fregadolli, no qual, com conhecimento histórico e propriedade técnica, resume a situação de degradação da arborização da Cidade Canção, chama a atenção dos responsáveis e até "puxa a orelha" de alguns que agridem nosso ambiente. Toca na "ferida" injusta que as faz sofrer (alguém duvida que de que elas sofram?) e perecer.
Outro dia, no lançamento do Instituto da Árvore, o prefeito Silvio Barros falou sobre a situação da nossa arborização, da dificuldade do poder público em cuidar das árvores e disse algo no qual acredito: de que boa parte do maringaense tem sua árvore "inimiga" número um.
Acredito que para alguns a inimizade surgiu em razão da fragilidade da árvore que já comprometida representa um perigo à vida e ao patrimônio. Outros preferem dar maior visibilidade à fachada e à luminosidade do seu fluorescente. Em outros casos, são folhas que entopem a calha, que caem na calçada, a raiz rompe a calçada - estabelece-se um conflito entre árvores e humanos. Existem os que varrem as indesejadas folhas da árvore no bueiro. Ops! Nada de denuncismo.
Acredito, por outro lado, que a maioria das pessoas acha as árvores bonitas, maravilhosas e que sua sombra e beleza representam uma benção de Deus. Mas boa parte prefere que a árvore seja bela e frondosa defronte a casa do vizinho - desde que ele varra a calçada e as folhas não caiam no seu quintal.
Preocupa-me estar à frente do Instituto da Árvore, instituição criada por gente comprometida e definitivamente preocupada com as condições e qualidade da nossa arborização e poder fazer muito pouco. Preocupa-me as dificuldades que representa preservar a nossa arborização, o conflito de interesses que se impõem. Preocupa-me que os indignados são as pessoas mais velhas, dentre outras o pioneiro Germani, Antenor Sanches e o professor Basílio Baccarin, este inconformado com o estado lastimável de nossa arborização - homem sacudido e de gênio voluntarioso, sentiu na prática a rejeição daqueles que nunca plantaram uma árvore, mas que se indispõem contra o inconformismo e pragmatismo dos outros.
O professor Cláudio Pietrobon me transmitiu o contentamento do "Jardineiro de Maringá" - Anníbal Bianchini -, ao lhe dar a notícia de fundação do Instituto da Árvore, com a missão de manutenção e preservação das nossas árvores, acreditou que algo seria feito. Temos responsabilidade histórica para com os nossos antepassados, não podemos nos olvidar.
Como nossos pioneiros, nossas árvores estão passando! Nós estamos passando! Nossos pioneiros se garantiram sendo sucedidos por seus netos. Nossas árvores não tiveram filhos para produzirem netos, semearam em terreno impermeável.
O espaço das árvores não é respeitado. Para termos paz e nos desenvolvermos - diz a sabedoria oriental - temos que respeitar os espaços dos outros, humanos ou não.
Na Semana do Meio Ambiente manifesto preocupação.



Marcos Capellazzi é presidente do Instituto da Árvore de Maringá