Oposição acusa Planalto de privilegiar base aliada Listas elaboradas pelo DEM com os parlamentares que mais tiveram emendas pagas e empenhadas este ano têm 80% de governistas Daniel Pereira Da equipe do Correio “Vou-me embora pra Pasárgada, lá sou amigo do rei, lá tenho a mulher que eu quero, na cama que escolherei.” Clássicos da literatura brasileira, os versos de Manuel Bandeira poderiam servir de lema da liberação de emendas individuais de parlamentares neste ano. É o que dizem representantes da oposição, com base em duas listas de deputados e senadores que mais tiveram emendas pagas e empenhadas pelo governo entre janeiro e 13 de julho. Compostas cada uma por 21 nomes, as duas relações têm pelo menos 80% de parlamentares que apóiam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em uma delas, só figuram quatro integrantes da oposição. Na outra, apenas três. “É pública e notória a tremenda discriminação. O núcleo duro do governo tem formação ideológica totalitária. Acha que o Estado pertence ao PT e à base”, ataca o líder do PSDB na Câmara, deputado Antonio Carlos Pannunzio (SP). Responsável pela relação com o Congresso, o ministro de Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, rechaça a acusação. Afirma que a liberação de emendas obedece a critérios técnicos. Na hora do desembolso, teriam preferência, por exemplo, emendas destinadas a projetos prioritários e a obras em andamento. Walfrido também entoa a cantilena do cobertor curto, segundo a qual o aperto das contas públicas impede as liberações no ritmo desejado pelos parlamentares. “Pódio” Elaborada pela assessoria de orçamento da liderança do DEM na Câmara, a partir de dados colhidos no Siafi, uma das listas traz os 21 parlamentares que mais tiveram emendas liberadas relativas a restos a pagar de 2004, 2005 e 2006. Fazem parte do grupo, agraciado com R$ 123.667.012,53, 18 governistas e três oposicionistas. Os sete mais bem colocados são aliados de Lula. No pódio estão os ex-deputados João Tota (PP-AC), Júnior Betão (PL-AC) e Iara Bernardi (PT-SP). Em oitavo e nono lugares aparecem o senador Demostenes Torres (DEM-GO), relator da CPI do Apagão Aéreo do Senado, e o ex-deputado Moroni Torgan (DEM-CE). “Esse é o critério republicano do governo Lula. Primeiro, os meus”, ironiza o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN). Líder do PSol na Câmara, o deputado Chico Alencar (RJ) concorda com a tese da discriminação. Ressalva, no entanto, que a prática não é nova e já beneficiou aqueles que hoje protestam. “A prática é quase natural pelo tipo de política de clientela e de adesão praticada desde o governo Fernando Henrique Cardoso. A oposição não quer mudar o sistema. Só pensa em voltar a ser governo.” Outros destaques do ranking relacionado aos restos a pagar são o deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), irmão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Ocupam, respectivamente, a 13ª e a 14ª posições. Tiveram R$ 1.110.134,00 e R$ 1.080.000,00 em emendas liberadas. Novos empenhos A segunda relação também foi elaborada pela assessoria do DEM na Câmara. Revela os campeões em emendas empenhadas inscritas só no Orçamento deste ano. São 17 governistas e quatro oposicionistas, beneficiados com R$ 11.116.821,96. Os cinco primeiros colocados são soldados do presidente. Os ex-deputados Hélio Esteves (PT-AP) e João Caldas (PL-AL) lideram o ranking, seguidos pelo senador Marcelo Crivella (PRB-RJ). Os valores empenhados foram de, respectivamente, R$ 2 milhões, R$ 1,499 milhão e R$ 1 milhão. O ex-deputado federal e ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz (PCdoB-DF) está na quinta colocação, com R$ 600 mil empenhados. Na parte de baixo da lista aparecem, entre outros, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), e o presidente do Conselho de Ética do Senado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO). Os oposicionistas com melhor desempenho são o ex-deputado Ivan Ranzolin (DEM-SC) e o ex-senador José Jorge (DEM-PE), em sexto e sétimo lugares, respectivamente. Na semana passada, Walfrido prometeu liberar a partir de agosto R$ 500 milhões em emendas individuais de parlamentares, a cada mês, até o fim do ano. A medida beneficiará governistas e oposicionistas sem distinção, acrescentou. O objetivo é acalmar os parlamentares e garantir a aprovação de matérias polêmicas, como a prorrogação da CPMF. |
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