Penso, logo resisto
Por MARIA NEWNUM
Na página 233 de A mosca Azul, Frei Beto diz: “Pensar dói. É tão mais confortável tudo estar previsto. Então a verdade nos é servida à boca como sopa quente em noite de inverno”.
Quem não pensa, não resiste. Aceita docilmente o que vem filtrado; diz o que dizem para ser dito. Quem não pensa, não resiste, confessa o “credo” mandado e pronto! “Basta ter fé, confiar. E se não alcançarmos os fundamentos teóricos da verdade, há a hermenêutica da autoridade a socorrer nossa ignorância”. (A mosca Azul, página 233).
A autoridade genuína seja na empresa, na Igreja ou na sociedade, só é identificada por quem pensa. Quem não pensa, toma o veneno de supostas “autoridades” como sopa quentinha em noite de inverno. Pensar, duvidar e reagir esfria a alma, cansa e dói até os ossos. Por isso é tarefa que poucos assumem como objetivo de vida. A maioria quer a sopa quente e um mapa pronto, para que mesmo “vendadas”, possam chegar ao destino traçado pelas “autoridades”. Abrir caminhos na floresta da vida é desafio para quem pensa. É para quem não se sente confortável com as sopinhas enfiadas goela abaixo nem com os mapas pré-fabricados por chefes, líderes religiosos ou políticos.
“Sofrido é encontrar-se numa encruzilhada após ter perdido o mapa da viagem. Ver-se obrigado a escolher um caminho, uma via, um rumo. Optar. Renunciar a tantas outras possibilidades. E ousar abrir o caminho com o próprio caminhar”. (A mosca Azul, página 233).
O poeta espanhol Antonio Machado sintetiza o caráter dos homens e mulheres resistentes da América Latina ao dizer: “Não existe caminho; o caminho se faz no caminhar”.
Mete-se em grande ilusão quem passa a vida seguindo cegamente a trilha de chão batido por passos alheios. Passa a vida achando que viveu, mas no final, não deixará história própria. Não existe caminho, a não ser aquele aberto com os próprios passos.
Evidentemente isso não implica arrogância tola dos que não consideram as pegadas deixadas por grandes homens e mulheres desse mundo e por pessoas anônimas como pais, mestres e amigos. Quem pensa, não ignora as pegadas generosas que servem de referência e ajudam a imprimir novas pegadas, no bom círculo vicioso da vida, que se renova e abre clareiras de luz na mata selvagem da vida.
Quem pensa, distingue as pegadas que merecem ser seguidas. Considera que cada passo do “seguir” não pode ser mera imitação a-crítica; é preciso pensar e ir além; deixar pegadas que iluminarão os que virão atrás.
Em Palavra a um General. Bertolt Brecht traduz brilhantemente a relação entre autoridade e indivíduos pensantes ao dizer:
“O vosso tanque, General, esmaga cem homens. Mas tem um defeito: Precisa de um motorista. O vosso bombardeiro, General, é poderoso: Voa mais depressa que a tempestade transporta mais carga que um elefante. Mas tem um defeito: Precisa de um piloto. O homem, meu General, é muito útil, sabe voar e sabe matar. Mas tem um defeito: Sabe pensar”. (Soc. dos Poetas Mortos - 1898/1956)
Bertolt Brecht ilumina os resistentes ao dizer:
“Há homens que lutam um dia, e são bons. Há outros que lutam um ano, e são melhores. Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons. Porém há os que lutam toda a vida. Estes são os imprescindíveis”.
Pensar e resistir são para os imprescindíveis da empresa, da Igreja e da sociedade, pois como disse Pablo Neruda “As piores cadeias são as da cabeça”.
Construa seu caminho a partir dos passos dos imprescindíveis. Pense, resista; liberte-se.
_______
Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá e Coordenadora da Consultoria Spiritual Care.
Para comentar ou ler outros artigos acesse: http://br.groups.yahoo.com/group/LittleThinks
Na página 233 de A mosca Azul, Frei Beto diz: “Pensar dói. É tão mais confortável tudo estar previsto. Então a verdade nos é servida à boca como sopa quente em noite de inverno”.
Quem não pensa, não resiste. Aceita docilmente o que vem filtrado; diz o que dizem para ser dito. Quem não pensa, não resiste, confessa o “credo” mandado e pronto! “Basta ter fé, confiar. E se não alcançarmos os fundamentos teóricos da verdade, há a hermenêutica da autoridade a socorrer nossa ignorância”. (A mosca Azul, página 233).
A autoridade genuína seja na empresa, na Igreja ou na sociedade, só é identificada por quem pensa. Quem não pensa, toma o veneno de supostas “autoridades” como sopa quentinha em noite de inverno. Pensar, duvidar e reagir esfria a alma, cansa e dói até os ossos. Por isso é tarefa que poucos assumem como objetivo de vida. A maioria quer a sopa quente e um mapa pronto, para que mesmo “vendadas”, possam chegar ao destino traçado pelas “autoridades”. Abrir caminhos na floresta da vida é desafio para quem pensa. É para quem não se sente confortável com as sopinhas enfiadas goela abaixo nem com os mapas pré-fabricados por chefes, líderes religiosos ou políticos.
“Sofrido é encontrar-se numa encruzilhada após ter perdido o mapa da viagem. Ver-se obrigado a escolher um caminho, uma via, um rumo. Optar. Renunciar a tantas outras possibilidades. E ousar abrir o caminho com o próprio caminhar”. (A mosca Azul, página 233).
O poeta espanhol Antonio Machado sintetiza o caráter dos homens e mulheres resistentes da América Latina ao dizer: “Não existe caminho; o caminho se faz no caminhar”.
Mete-se em grande ilusão quem passa a vida seguindo cegamente a trilha de chão batido por passos alheios. Passa a vida achando que viveu, mas no final, não deixará história própria. Não existe caminho, a não ser aquele aberto com os próprios passos.
Evidentemente isso não implica arrogância tola dos que não consideram as pegadas deixadas por grandes homens e mulheres desse mundo e por pessoas anônimas como pais, mestres e amigos. Quem pensa, não ignora as pegadas generosas que servem de referência e ajudam a imprimir novas pegadas, no bom círculo vicioso da vida, que se renova e abre clareiras de luz na mata selvagem da vida.
Quem pensa, distingue as pegadas que merecem ser seguidas. Considera que cada passo do “seguir” não pode ser mera imitação a-crítica; é preciso pensar e ir além; deixar pegadas que iluminarão os que virão atrás.
Em Palavra a um General. Bertolt Brecht traduz brilhantemente a relação entre autoridade e indivíduos pensantes ao dizer:
“O vosso tanque, General, esmaga cem homens. Mas tem um defeito: Precisa de um motorista. O vosso bombardeiro, General, é poderoso: Voa mais depressa que a tempestade transporta mais carga que um elefante. Mas tem um defeito: Precisa de um piloto. O homem, meu General, é muito útil, sabe voar e sabe matar. Mas tem um defeito: Sabe pensar”. (Soc. dos Poetas Mortos - 1898/1956)
Bertolt Brecht ilumina os resistentes ao dizer:
“Há homens que lutam um dia, e são bons. Há outros que lutam um ano, e são melhores. Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons. Porém há os que lutam toda a vida. Estes são os imprescindíveis”.
Pensar e resistir são para os imprescindíveis da empresa, da Igreja e da sociedade, pois como disse Pablo Neruda “As piores cadeias são as da cabeça”.
Construa seu caminho a partir dos passos dos imprescindíveis. Pense, resista; liberte-se.
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Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá e Coordenadora da Consultoria Spiritual Care.
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