27.8.07

A hora da toga

Rubem Azevedo Lima

Surpreende, no processo dos mensalões ora no STF, a presença de tanta gente de nossas elites, os burgueses, que, segundo Lula, o vaiam nas ruas desde o Pan-Americano. O presidente deve, pois, escusas aos mensaleiros, a nata da burguesia dos partidos que o apóiam e só aplaudem, não vaiam.
Motivo para vaiá-lo tem o trabalhador Francenildo, testemunha noutro escândalo, cuja honestidade foi punida, ao revelar que Palocci, ministro de Lula, comparecia às festas bordelengas dos mensaleiros, em Brasília. Esse homem, caseiro da casa freqüentada pelo ministro, respondeu, na CPI, às negativas de Palocci: “Eu não sou ninguém, mas ele mente”.
Tentaram desqualificar o caseiro, abrindo sua conta bancária ilegalmente e o acusaram de receber dinheiro de inimigos do governo, para mentir na CPI. Lula, que recebera em palácio outro modesto servidor e o elogiou por ter devolvido ao dono uma carteira com dólares, no caso de Francenildo, porém, solidarizou-se com o ministro.
Historiadores, políticos e poetas vasculharam a história de Roma e acharam, entre as causas de sua decadência, a corrupção e a decomposição moral. Gibbon, Mommsen, Montesquieu, Octavio Paz e Ronald Syme, à luz de documentos, mas Suetônio, Tito Lívio, Tácito (falou de subornos no Senado) e Salústio (embora corrupto), testemunhas dos fatos, deixam isso claro. Cullen Murphy (Are We Rome?) vê sinais desses fatores nos EUA. No Brasil, procuradores, Polícia Federal e CPIs perceberam o mesmo e levaram 40 mensaleiros a julgamento no STF.
O Brasil, como Roma, teve monarquia, república e ditaduras. Algumas dessas, a título de restaurar a democracia e a moralidade, com ou sem Congresso, ou mantendo essa instituição e o Judiciário, para salvar as aparências, governaram por atos institucionais, medidas provisórias e decretos. Em ética e competência, tais legisladores e governos, quando hegemônicos, falharam, apesar das boas intenções de alguns deles.
Nesta hora, o povo parece esperar muito da toga. Põe o STF acima das idiossincrasias de seus ministros ou dos perigos e pede justiça, na medida certa a cada mensaleiro, para não ter a sensação de estar o país em decomposição moral e no fim das esperanças em mais um governo.

Correio Braziliense Opinião 27/08/07