Sobre essa profissão, por Edmundo Pacheco
Edmundo Pacheco (*)
Dia destes um guri, destes de faculdade, me perguntou como é ser jornalista e se dava dinheiro etc... Então resolvi contar. Sou jornalista profissional desde 1979 (Mtb-Pr 101.01.051). Fui repórter, diagramador e editor-chefe do extinto “O Jornal” de Maringá até 1982, dali fui pra (quase extinta) Folha de Londrina, onde trabalhei 8 anos, em dois períodos; neste intervalo fui assessor de imprensa da Associação Comercial de Maringá, onde criei, além da própria assessoria, a Revista ACIM e o Prêmio Acim de jornalismo; em 1990 tive minha primeira experiência em televisão, como pauteiro da TV Maringá (Bandeirantes); em 1991 fui chamado pela TV Cultura (RPC-Globo em Maringá, empresa à qual estive ligado até esta semana, como pauteiro e depois editor-chefe da TV Guairaca, de Guarapuava). No período de 1991 a 2000, quando a TV não exigia exclusividade, fui, ainda, assessor de imprensa da Universidade Estadual de Maringá (concursado) e fiz uns frilas por ai. Estou tão rico, hoje, quanto quando comecei. Só tenho mais dívidas.
- Menino, jornalista rico?! Hummmm!!! – cofiei minha barba esbranquiçada.
O problema é que a maioria destes garotos entra na faculdade com uma visão errada da profissão. E. pior: sai dela da mesma maneira. A maioria entra (e sai) sonhando em botar a cara na televisão. Então, não está sonhando com a profissão, realmente, mas com a chance de ser artista ou ficar rico. O sujeito não tem talento, então resolve fazer uma faculdade e ser... Jornalista. Tem até uma piada sobre isso.
Garoto em volta da mãe:
- Mamãe quero aparecer na TV. Mamãe quero aparecer na TV. Mamãe quero aparecer na TV.
E a mãe, já de saco cheio:
- Tá bom, meu filho. A mamãe paga a faculdade de jornalismo.
Seria cômico... O problema é que jornalista não é artista. Jornalismo é um sacerdócio, como a medicina. Com a diferença de que jornalista não fica rico. Jornalista rico é picareta (e eu detesto essa praga!!) A menos que tenha enriquecido de outra forma, ganhando na loteria ou herança, mas aí dificilmente vai continuar sendo jornalista. Talvez vire patrão, mas aí também não será mais jornalista. Bom, dizem que também dá pra ficar rico sendo contratado por uma destas emissoras com muito dinheiro sobrando e pouco cérebro organizando. Mas, aí é outra história...
Esta é uma profissão onde se trabalha 24 horas por dia, 365 dias por ano, uma vida inteira, sem férias, sem descanso. Esteja onde estiver, você tem que saber tudo, tem que ler tudo, tem que entender, interpretar e explicar o mundo para o mundo. E o salário é ínfimo. Como editor-chefe na RPC, eu ganhava, líquido, parcos R$ 3 mil, com toda a responsabilidade do cargo. Então, não sonhe.
Depois, o garoto me perguntou como eu via o empreendedorismo na profissão. Bom, a princípio, com os olhos, né? Só dá pra ver algo com os olhos. Mas eu fiquei pensando: “o que será que ele tá querendo saber realmente? Empreendedorismo... Palavrão, né? Na boca de um garoto...” Mas vamos lá, acho que para ser jornalista é preciso ser empreendedor, sim; porque ser empreeendedor é ser proativo, é tomar as rédeas da situação e fazer o que ninguém viu que estava por fazer. Então, tem que ser empreendedor, sim. Agora, se você está pensando se deve abrir seu próprio negócio, aí vou lhe dizer que não, porque se você pula pro outro lado do balcão, deixa de ser jornalista. Vai ser patrão, se conseguir algum sucesso. E patrão, apesar de no Brasil
ser considerado, patrão não é jornalista. Ou, pior, vai ser picareta mesmo...
E então, amigo, nem fale comigo! Eu detesto picaretas! E, pra encerrar, o garoto ainda me perguntou: "De acordo com sua experiência, o que falta aos novos jornalistas quando estes saem da faculdade?" Bom, aí acabou mesmo a conversa. Começa que ninguém sai jornalista de faculdade nenhuma, né? Sai com uma graduação, que dá direito a requerer o registro junto ao Ministério do Trabalho e o registro dá o direito de ir pra fila do Sine. Então, você sai desempregado. Daí a virar "jornalista" tem um abismo. E aí vai descobrir que não tem emprego pra jornalista no Sine. A gente consegue trabalho através da network (óia que palavrona danada de bunita, sêo) e da credibilidade que conquistar nos anos seguintes de labuta. Ai, falta saber exatamente em que está se metendo.
Pra começar, nada de ficar sonhando com uma vida de glamour, em ser âncora (hiii... nem tem âncoras na TV brasileira, imagine?) e não sei o quê, quando, na verdade, você vai é ser bucha de canhão. Então, tem que ter noção de que vai ser bucha de canhão e tem que ser a melhor bucha de canhão possível, com a maior dignidade possível. É igual
jogador de futebol. O cara começa sonhando em ser Pelé, mas tem que saber que só teve um Pelé e têm milhares de zés-ninguéns jogando em tudo quanto é timeco por aí. Tem um Willian Bonner, lá, apresentando o JN, mas só tem "UM" Willian Bonner e ele já tá lá. Isso não quer dizer que você não possa chegar lá. Agora tem que ter os pés no chão e saber onde tá se metendo...
É isso... Simples assim... Ah, em tempo: já falei que tenho horror a picareta? Pois é... E eles estão se espalhando, se enfronhando, dominando tudo. Malditos sejam!!!
(*) Jornalista.
Dia destes um guri, destes de faculdade, me perguntou como é ser jornalista e se dava dinheiro etc... Então resolvi contar. Sou jornalista profissional desde 1979 (Mtb-Pr 101.01.051). Fui repórter, diagramador e editor-chefe do extinto “O Jornal” de Maringá até 1982, dali fui pra (quase extinta) Folha de Londrina, onde trabalhei 8 anos, em dois períodos; neste intervalo fui assessor de imprensa da Associação Comercial de Maringá, onde criei, além da própria assessoria, a Revista ACIM e o Prêmio Acim de jornalismo; em 1990 tive minha primeira experiência em televisão, como pauteiro da TV Maringá (Bandeirantes); em 1991 fui chamado pela TV Cultura (RPC-Globo em Maringá, empresa à qual estive ligado até esta semana, como pauteiro e depois editor-chefe da TV Guairaca, de Guarapuava). No período de 1991 a 2000, quando a TV não exigia exclusividade, fui, ainda, assessor de imprensa da Universidade Estadual de Maringá (concursado) e fiz uns frilas por ai. Estou tão rico, hoje, quanto quando comecei. Só tenho mais dívidas.
- Menino, jornalista rico?! Hummmm!!! – cofiei minha barba esbranquiçada.
O problema é que a maioria destes garotos entra na faculdade com uma visão errada da profissão. E. pior: sai dela da mesma maneira. A maioria entra (e sai) sonhando em botar a cara na televisão. Então, não está sonhando com a profissão, realmente, mas com a chance de ser artista ou ficar rico. O sujeito não tem talento, então resolve fazer uma faculdade e ser... Jornalista. Tem até uma piada sobre isso.
Garoto em volta da mãe:
- Mamãe quero aparecer na TV. Mamãe quero aparecer na TV. Mamãe quero aparecer na TV.
E a mãe, já de saco cheio:
- Tá bom, meu filho. A mamãe paga a faculdade de jornalismo.
Seria cômico... O problema é que jornalista não é artista. Jornalismo é um sacerdócio, como a medicina. Com a diferença de que jornalista não fica rico. Jornalista rico é picareta (e eu detesto essa praga!!) A menos que tenha enriquecido de outra forma, ganhando na loteria ou herança, mas aí dificilmente vai continuar sendo jornalista. Talvez vire patrão, mas aí também não será mais jornalista. Bom, dizem que também dá pra ficar rico sendo contratado por uma destas emissoras com muito dinheiro sobrando e pouco cérebro organizando. Mas, aí é outra história...
Esta é uma profissão onde se trabalha 24 horas por dia, 365 dias por ano, uma vida inteira, sem férias, sem descanso. Esteja onde estiver, você tem que saber tudo, tem que ler tudo, tem que entender, interpretar e explicar o mundo para o mundo. E o salário é ínfimo. Como editor-chefe na RPC, eu ganhava, líquido, parcos R$ 3 mil, com toda a responsabilidade do cargo. Então, não sonhe.
Depois, o garoto me perguntou como eu via o empreendedorismo na profissão. Bom, a princípio, com os olhos, né? Só dá pra ver algo com os olhos. Mas eu fiquei pensando: “o que será que ele tá querendo saber realmente? Empreendedorismo... Palavrão, né? Na boca de um garoto...” Mas vamos lá, acho que para ser jornalista é preciso ser empreendedor, sim; porque ser empreeendedor é ser proativo, é tomar as rédeas da situação e fazer o que ninguém viu que estava por fazer. Então, tem que ser empreendedor, sim. Agora, se você está pensando se deve abrir seu próprio negócio, aí vou lhe dizer que não, porque se você pula pro outro lado do balcão, deixa de ser jornalista. Vai ser patrão, se conseguir algum sucesso. E patrão, apesar de no Brasil
ser considerado, patrão não é jornalista. Ou, pior, vai ser picareta mesmo...
E então, amigo, nem fale comigo! Eu detesto picaretas! E, pra encerrar, o garoto ainda me perguntou: "De acordo com sua experiência, o que falta aos novos jornalistas quando estes saem da faculdade?" Bom, aí acabou mesmo a conversa. Começa que ninguém sai jornalista de faculdade nenhuma, né? Sai com uma graduação, que dá direito a requerer o registro junto ao Ministério do Trabalho e o registro dá o direito de ir pra fila do Sine. Então, você sai desempregado. Daí a virar "jornalista" tem um abismo. E aí vai descobrir que não tem emprego pra jornalista no Sine. A gente consegue trabalho através da network (óia que palavrona danada de bunita, sêo) e da credibilidade que conquistar nos anos seguintes de labuta. Ai, falta saber exatamente em que está se metendo.
Pra começar, nada de ficar sonhando com uma vida de glamour, em ser âncora (hiii... nem tem âncoras na TV brasileira, imagine?) e não sei o quê, quando, na verdade, você vai é ser bucha de canhão. Então, tem que ter noção de que vai ser bucha de canhão e tem que ser a melhor bucha de canhão possível, com a maior dignidade possível. É igual
jogador de futebol. O cara começa sonhando em ser Pelé, mas tem que saber que só teve um Pelé e têm milhares de zés-ninguéns jogando em tudo quanto é timeco por aí. Tem um Willian Bonner, lá, apresentando o JN, mas só tem "UM" Willian Bonner e ele já tá lá. Isso não quer dizer que você não possa chegar lá. Agora tem que ter os pés no chão e saber onde tá se metendo...
É isso... Simples assim... Ah, em tempo: já falei que tenho horror a picareta? Pois é... E eles estão se espalhando, se enfronhando, dominando tudo. Malditos sejam!!!
(*) Jornalista.
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