Nos faltam admiráveis...
MARIA NEWNUM
Não sei quanto a você, mas eu que nasci em 66, tenho a terrível sensação que perdi as décadas que revelaram homens e mulheres “admiráveis” em todas as esferas.
No campo da música minha geração nem de longe experimentou força semelhante à dos Beatles. No campo das artes plásticas nada perto de Tarsila do Amaral, no campo político ninguém que se aproximasse de um Ernesto Tche Guevara e, no campo religioso-político (já que as expressões religiosas não se eximiam da atuação política) faltou-me referências de um Martin Luter King, uma Madre Tereza, um Dietrich Bonhoeefer. Além de gigantes do ecumenismo como D.T. Niles (metodista de Sri Lanka e primeiro presidente do Conselho Mundial de Igrejas); Eugene Carson Blake (presbiteriano, líder ecumênico nos EUA nos anos 50 e 60); Visser’tooft, grande líder do CMI. Sem mencionar gente como Ghandi que, como os já mencionados, continua como acessa chama “admirável” no mundo.
No Brasil, vem a memória expressões Católicas como: Zilda Arnes, mulher admirável; na multi-mistura da Pastoral da Criança vem multi-misturando pessoas de várias religiões interessadas em salvar os pequenos. E ainda Dom Helder Câmara; um verdadeiro herói, já desde o regime militar. Poucos sabem que Dom Helder salvou muitos e alguns protestantes da morte, entre estes, pelo menos um missionário metodista, o norte-americano Fred Morris, denunciado por um “irmão(?)” metodista anônimo, cruel, covarde e sem o brilho de Dom Helder.
Resta-me ainda a figura do Bispo do Xingu, Dom Erwin Kräutler, um ser admirável. Esse austríaco de coração amazonense; pai dos Indígenas, que apesar das contínuas ameaças de morte, vindas de fazendeiros, madeireiros e políticos da região de Altamira, é um resistente que ilumina alguns cristãos no Brasil. Mas, quantos conhecem Dom Erwin Kräutler? Ele não é pop, é um profeta “anônimo” numa terra esquecida pela mídia religiosa.
Como protestante procuro figuras “admiráveis” que façam frente à realidade desse nosso Brasil de misérias sociais, corrupções políticas, acordões e pizzas em quase todas as esferas públicas e jurídicas. Onde estarão? Será que trancafiados nos “templos”, cumprindo a rotina cúltica onde são ovacionados por fiéis adoradores de “semi-deuses”? Ora, não é assim que alguns líderes religiosos protestantes se colocam? Como “ungidos de Deus”, os quais, os fiéis devem obedecer e adorar?
Na minha Igreja Metodista, a procura seria inglória, não fossem os/as “admiráveis” anônimos/as que cotidianamente (mesmo que, às vezes, iludidos pelos semi-deuses) tentam ser profetas e profetizas transformadores da realidade a sua volta; como legítimos discípulos/as de Jesus.
No outro lado do mundo a Igreja Metodista Unida nos Estados Unidos, apesar das dificuldades financeiras advindas da guerra gerenciada pelo presidente Busch (ora veja, ele é metodista!), tenta preservar o enfoque das quatro áreas de ação missionária da igreja: a saber: o desenvolvimento de liderança, o crescimento congregacional, a saúde global e a pobreza.
O pano de fundo da Igreja Metodista brasileira abriga outro tipo de guerra; não menos cruel, não menos covarde, não menos malévolo e não menos contra-producente...
O momento histórico protestante é sem dúvida o pior, o mais mesquinho e o mais sem propósito em relação às tarefas proféticas da Igreja: a saber: a missão integral: humana, evangelizadora e política; e a missão teológica: “pensar e deixar pensar”, responder a religiosidade de mercado e redirecionar os passos rumo a tradição protestante e Wesleyana; essa última, no caso da Igreja Metodista brasileira.
A quem compete essas tarefas?
Certamente não aos profetas e profetizas “anônimos”; estes não possuem força “institucional”; são os simples desse mundo. E nada há de se esperar dos “semi-deuses”; estão ocupados com outros afazeres; zelando de suas “glórias” pessoais; encantados com a ovação das ovelhas de um olho só...
Os “semi-deuses”, em qualquer denominação, são os santos de mãos encolhidas e línguas presas. Incapazes de reagir, denunciar ou anunciar em alto e bom som, o caminho missionário, frente à realidade medíocre; ditada pela religião de mercado.
Para falar do Brasil, é nítida a experimentação de um “apodrecimento” no seio protestante. Isso é um fato que será historiado futuramente. Não se foge dos registros a posteriori.
Enquanto isso registre-se um protesto protestante: “Nos faltam admiráveis”. E nessa lacuna, cada qual deve se achar e se perceber como grãos pequenos; sujeitos a boa sorte da terra fértil e da água divina que faz florescer, de alguma forma, as sementes incrustadas entre rochas duras.
A história revelará os “admiráveis” e “execráveis”. Tudo é questão de tempo. E o tempo de Deus é generoso e também implacável.
________
Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática e metodista. Membro do Movimento Ecumênico e do Grupo de Diálogo Inter-religioso de Maringá e filiada a um partido político.
Outros artigos em http://br.groups.yahoo.com/group/LittleThinks/
Não sei quanto a você, mas eu que nasci em 66, tenho a terrível sensação que perdi as décadas que revelaram homens e mulheres “admiráveis” em todas as esferas.
No campo da música minha geração nem de longe experimentou força semelhante à dos Beatles. No campo das artes plásticas nada perto de Tarsila do Amaral, no campo político ninguém que se aproximasse de um Ernesto Tche Guevara e, no campo religioso-político (já que as expressões religiosas não se eximiam da atuação política) faltou-me referências de um Martin Luter King, uma Madre Tereza, um Dietrich Bonhoeefer. Além de gigantes do ecumenismo como D.T. Niles (metodista de Sri Lanka e primeiro presidente do Conselho Mundial de Igrejas); Eugene Carson Blake (presbiteriano, líder ecumênico nos EUA nos anos 50 e 60); Visser’tooft, grande líder do CMI. Sem mencionar gente como Ghandi que, como os já mencionados, continua como acessa chama “admirável” no mundo.
No Brasil, vem a memória expressões Católicas como: Zilda Arnes, mulher admirável; na multi-mistura da Pastoral da Criança vem multi-misturando pessoas de várias religiões interessadas em salvar os pequenos. E ainda Dom Helder Câmara; um verdadeiro herói, já desde o regime militar. Poucos sabem que Dom Helder salvou muitos e alguns protestantes da morte, entre estes, pelo menos um missionário metodista, o norte-americano Fred Morris, denunciado por um “irmão(?)” metodista anônimo, cruel, covarde e sem o brilho de Dom Helder.
Resta-me ainda a figura do Bispo do Xingu, Dom Erwin Kräutler, um ser admirável. Esse austríaco de coração amazonense; pai dos Indígenas, que apesar das contínuas ameaças de morte, vindas de fazendeiros, madeireiros e políticos da região de Altamira, é um resistente que ilumina alguns cristãos no Brasil. Mas, quantos conhecem Dom Erwin Kräutler? Ele não é pop, é um profeta “anônimo” numa terra esquecida pela mídia religiosa.
Como protestante procuro figuras “admiráveis” que façam frente à realidade desse nosso Brasil de misérias sociais, corrupções políticas, acordões e pizzas em quase todas as esferas públicas e jurídicas. Onde estarão? Será que trancafiados nos “templos”, cumprindo a rotina cúltica onde são ovacionados por fiéis adoradores de “semi-deuses”? Ora, não é assim que alguns líderes religiosos protestantes se colocam? Como “ungidos de Deus”, os quais, os fiéis devem obedecer e adorar?
Na minha Igreja Metodista, a procura seria inglória, não fossem os/as “admiráveis” anônimos/as que cotidianamente (mesmo que, às vezes, iludidos pelos semi-deuses) tentam ser profetas e profetizas transformadores da realidade a sua volta; como legítimos discípulos/as de Jesus.
No outro lado do mundo a Igreja Metodista Unida nos Estados Unidos, apesar das dificuldades financeiras advindas da guerra gerenciada pelo presidente Busch (ora veja, ele é metodista!), tenta preservar o enfoque das quatro áreas de ação missionária da igreja: a saber: o desenvolvimento de liderança, o crescimento congregacional, a saúde global e a pobreza.
O pano de fundo da Igreja Metodista brasileira abriga outro tipo de guerra; não menos cruel, não menos covarde, não menos malévolo e não menos contra-producente...
O momento histórico protestante é sem dúvida o pior, o mais mesquinho e o mais sem propósito em relação às tarefas proféticas da Igreja: a saber: a missão integral: humana, evangelizadora e política; e a missão teológica: “pensar e deixar pensar”, responder a religiosidade de mercado e redirecionar os passos rumo a tradição protestante e Wesleyana; essa última, no caso da Igreja Metodista brasileira.
A quem compete essas tarefas?
Certamente não aos profetas e profetizas “anônimos”; estes não possuem força “institucional”; são os simples desse mundo. E nada há de se esperar dos “semi-deuses”; estão ocupados com outros afazeres; zelando de suas “glórias” pessoais; encantados com a ovação das ovelhas de um olho só...
Os “semi-deuses”, em qualquer denominação, são os santos de mãos encolhidas e línguas presas. Incapazes de reagir, denunciar ou anunciar em alto e bom som, o caminho missionário, frente à realidade medíocre; ditada pela religião de mercado.
Para falar do Brasil, é nítida a experimentação de um “apodrecimento” no seio protestante. Isso é um fato que será historiado futuramente. Não se foge dos registros a posteriori.
Enquanto isso registre-se um protesto protestante: “Nos faltam admiráveis”. E nessa lacuna, cada qual deve se achar e se perceber como grãos pequenos; sujeitos a boa sorte da terra fértil e da água divina que faz florescer, de alguma forma, as sementes incrustadas entre rochas duras.
A história revelará os “admiráveis” e “execráveis”. Tudo é questão de tempo. E o tempo de Deus é generoso e também implacável.
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Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática e metodista. Membro do Movimento Ecumênico e do Grupo de Diálogo Inter-religioso de Maringá e filiada a um partido político.
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