29.9.07

Renan, Quintana e Jesus

Sérgio Andrade

É difícil encontrar pessoas alheias a tudo que acontece no Brasil nos espaços dos poderes públicos (e privados também). Há muito tempo, mentiras, corrupções, fraudes, roubalheiras, interesses particulares, milhões de reais, relatórios e sessões secretas se revelam como parte integrante do cenário político e social. Tristes resultados de contruções históricas que se associam com o relativismo ético deste tempo marcado pela intensa competitividade e inversão de valores. Neste contexto, revelo uma preocupação pessoal: os jovens podem perder a esperança. Aliás, muitos deles já revelam algum grau de desmotivação, insegurança e incredulidade. Algumas perguntas aparecem com naturalidade: em quem devemos acreditar? Para onde iremos? Vale à pena prosseguir? Diante da minimização da justiça, da verdade, da honestidade, do amor e do compromisso com o outro estamos correndo o risco, cada vez maior, de inaugurar tempos marcados pela apatia, acomodação, deformação de conceitos e, finalmente, pela prática pecaminosa pessoal e coletiva. Lembro-me de Jesus. É bom saber que palavras e ações do Senhor provocavam nas pessoas algum tipo de reação. Muitos se inquietavam. Outros, procuravam o afastamento. Alguns o seguiram, compreendendo ser Ele o Filho de Deus que escolheu denunciar, inverter, acolher, animar, profetizar e agir, sempre ao lado das pessoas excluídas. Difícil era permanecer indiferente àquele homem que tocava os corações, curava os corpos, restaurava as relações, confrontava os políticos e religiosos, expulsava os demônios ( do medo, da vergonha, do preconceito, do estigma, do esquecimento, entre outros) e gerava esperança. O Reino havia chegado e com ele um novo projeto de viver e ser... A mensagem de Jesus nos faz perceber que não estamos longe do mundo. O Reino se revela para esta geração. Somos seres e habitantes desta sociedade que se recusam a aceitar o que para muitos parece comum e corriqueiro. Insistimos na mesma e eterna mensagem: Deus ser revelou em Cristo para que pessoas, sociedades e nações sejam transformadas nEle para que o presente e o futuro sejam geradores de esperança. À Igreja cabe o compromisso de anunciar aos jovens que não deixem de crer que podemos construir um outro mundo, antecipação daquele que virá. Somos instados, como anunciadores encarnados da nova vida em Cristo, a dizer que o futuro pode e deve ser diferente, ainda que as forças do mal pareçam mais fortes. Somos levados a mostrar que acreditamos e vivemos de forma diferente, pois outros valores e atitudes emolduram nossas relações. Chegarão dias de jutiça, paz e liberdade. Como dizia Mário Quintana:”Todos esses que aí estão atravancando meu caminho, eles passarão... eu passarinho!”

* Sérgio Andrade é coordenador do Programa de Apoio à Ação Diaconal das Igrejas (PAADI) da Diaconia e reverendo da Igreja Anglicana.
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