15.10.07

Violência de vizinhos mata

ELVIO ROCHA

Segunda-feira, 8 de outubro, por volta das 22h30. O cenário, um casinha pobre, na Vila Marumbi, onde moram um casal de idade, ele, Sr.Adão, muito doente há nos, com sérios problemas cardíacos e o Alzheimer avançando. Em dois “puxadinhos”, que seguem o alinhamento da casa da frente, moram duas filhas casadas e seus respectivos companheiros, mais três crianças pequenas. Pessoas simples, o casal mais velho, principalmente.
Um dos genros, S., tenta montar um guarda-roupa. Mora no último “puxadinho” com a esposa e dois filhos; um de cinco anos e outro de seis meses. Na casa de esquina, bem ao lado, reside uma família “complicada”, temida até pelos próprios parentes. O pai e três filhos adultos, mais a esposa. Eles ouvem o barulho da montagem do guarda-roupa e, já alterados, passam a agredir verbalmente S., que, inadvertidamente, revida. O clima esquenta: pai e dois filhos baderneiros não se contentam em disparar toda sorte de xingamentos, pegam uma moto e passam a avançar com ela sobre o portão de metal do Sr. Adão.
Ao ouvir os seguidos impactos da moto contra o portão, S. vai até lá. O portão já está arrombado e um dos rapazes armado com duas começa a investir contra ele, tendo o pai e outro irmão visivelmente alterados na retaguarda, proferindo palavrões e ameaças. As filhas de Adão entram em pânico quando vêem as armas e se trancam com as crianças dentro de casa. Adão, contudo, mesmo seriamente doente, sempre bondoso, generoso e cristão fervoroso, sai de casa, desvencilhando-se da esposa, que procura segurá-lo. Com a voz tranqüila de sempre e os braços quase cruzados, para ratificar que não quer discussão, aproxima-se dos invasores que ameaçam seu genro, S., mas, mesmo pedindo para que a discussão se encerre, não consegue. O trio de vizinhos aumenta o tom da voz, e, já dentro do quintal, passa a berrar e a ameaçar todos. O pânico das crianças e da esposa de Adão cresce. A vizinhança toda ouve os gritos, mas teme se aproximar porque conhece e teme a fama dos arruaceiros. Adão, que não pode suportar situações como esta, cai, de súbito, no chão. Está tendo um infarto. Assustados, os invasores deixam a casa, sem prestar socorro. A família, desesperada, chama o socorro médico. O outro genro, R, se aproxima e vê que o caso é grave. Vem a ambulância e a equipe tenta reanimar o doente, mas sem sucesso. Então, o levam para o hospital. Pouco tempo depois, vem a confirmação de que Adão já chegara sem vida ao pronto-socorro. As filhas entram em desespero, bem como um filho, a esposa, genros e netos. A notícia da morte se espalha e a indignação também. O vizinho invasor, ao saber da morte de Adão, pula o muro da casa com os dois filhos brigões e todos desaparecem. Quase dois dias depois, sob revolta dos vizinhos e da família, Adão é sepultado.
Antes da confirmação da morte, a polícia é chamada. Curiosamente, chega ao local justamente com um dos filhos brigões. Nem o pai e nem os filhos invasores parecem preocupados com a presença dos policias. Ninguém é detido.
A família de Adão foi à delegacia dar queixa, mas só no feriado de 12 de outubro. Chegou lá e soube que os invasores já tinham prestado queixa antes, como “vítimas”, tentando livrar a cara do que fizeram. O caso foi ao ar na terça, no Programa “Maringá Urgente”. Durante a queixa, só uma vizinha, corajosa, mesmo com medo de represálias, aceitou ser testemunha das vítimas. Os demais, todos revoltados indignados na hora dos fatos relatados, preferiram a omissão por temerem vingança dos valentões.
Desde a morte de Adão, a casa dos vizinhos invasores ficou praticamente vazia. Lá permaneceu só a esposa e, mais recentemente, um sujeito, de fama igual ou pior, mantido ali pelos três fujões. Um terceiro filho que não participou da violência, depois disso, circulou de moto altas horas da noite, nas imediações, fazendo ameaças à família que está luto. Ontem, soube-se que o tal “guardião”, que permanece escondido dentro da casa, disse que estava armado e que atiraria no primeiro que pusesse a cara no portão. Um vizinho, anônimo, informou a polícia civil, hoje, deste fato. Todos acreditam que o tal “vigilante”, conhecido no bairro, não tem porte de arma, até porque sua fama é péssima nas redondezas e suas ameaças têm comprovado isso.
Ao final, difícil saber o que será feito de justiça nesta história. O que sei é que a família não dorme há várias noites e que a viúva, filhos e netos não têm descanso nem para amenizar a perda brutal que sofreram.