Carta ao companheiro e comandante
MILLÔR
Companheiro Lula. Se me permite. Acho que ainda é tempo. Deixa pra lá essa tal de CPMF. Ou combine com seus companhos, afetos, apaniguados, todos os seus goodfellas, e também todos os seus adversários de boa-fé: a CPMF fica. Mas todo o dinheiro vai, como era idéia do Jatene, pra saúde. Não, corrige aí: pra doença.
Mas tu me perguntarás, na tua eterna dúvida filosófica: "E como é que vou governar, Millôr? O Manteiga disse que sem essa gaita não é possível tocar o país, quero dizer, o Bolsa Família".
Honesto Lula (Otelo, do Shakespeare, pro Iago, do mesmo), a coisa é tão simples que salta aos olhos de um cego (deficiente visual): Libera as drogas! Tudo. É. TUDO!
Olha, companho, o dinheiro dos impostos sobre drogas (e fabrico e comercialização, transporte, tudo devidamente estatizado) vai dar até pra avião novo e algum pra distribuir entre os afro-africanos.
"Liberar drogas, Millôr, tu tá maluco? Só o Gabeira vai ficar a favor! Tu te responsabiliza pelo que vem depois?"
Eu não me responsabilizo por pomba nenhuma, companho, não sei o que vai acontecer depois. Quem tem prospectiva, expectação, probabilidades, antevisão, prenúncio, conjectura, prognóstico, antevisão, cheirar ao longe, prelibação, presciência, vaticínio, é economista. Pergunta aos economistas aí. Tem tanto.
Mas uma coisa eu te garanto: liberadas as drogas, na mesma hora, não é no dia seguinte, não, companho, desaparece o traficante. Não precisa esperar os tais 20 anos pra que a educação e o apoio social (escolas, creches, centros de cultura e o escambau) resolvam a questão. E uma coisa eu prevejo, companho – ninguém morre mais de bala perdida.
Efeito negativo – sei lá. Os Estados Unidos, que tanta coisa nos encinam, encinam ou insinão?, podem nos ensinar também essa. Nos 10 ou 12 anos que teve por lá a Prohibition (no Brasil Proibição ou, mais popular, Lei Seca) nunca se bebeu tanto. Imediatamente, como aqui, se criou o "crime organizado". E a polícia corrupta. O mínimo que os policiais honestos faziam era revelar uma batida. Lembra alguma coisa? Nos speakeasy ("Falabaixo!, cara, tem sempre gente ouvindo") era um luxo encher a cara.
Reinava então, rei de Chicago, o saudoso Al Capone (diz aí sinceramente: se aparecer um filme novo com ele você vai ou não vai correndo ao cinema?). Cada tempo tem o Che Guevara que merece.
E, lá como aqui, ninguém escapava – até o genial Piazzola, com 12 anos, de vez em quando o pai mandava entregar uma encomenda de moonlight (uísque de banheira). Avião, sim, senhor.
Suspensa a Lei Seca, é claro que o crime derivou pra outras formas de lucro, como seqüestro e "proteção".
Claro que aqui – agora vou bancar o economista e prever – o crime também vai pra outros lados. Mas bala perdida, repito, nunca mais. Nem a morte e o crime estarão localizados em áreas onde vive grande parte da população pobre.
E é evidente que vai aumentar muito o assalto a banco. Quanto a isso, juro, não tenho opinião formada. Eles que são brancos que se entendam.
Companheiro Lula. Se me permite. Acho que ainda é tempo. Deixa pra lá essa tal de CPMF. Ou combine com seus companhos, afetos, apaniguados, todos os seus goodfellas, e também todos os seus adversários de boa-fé: a CPMF fica. Mas todo o dinheiro vai, como era idéia do Jatene, pra saúde. Não, corrige aí: pra doença.
Mas tu me perguntarás, na tua eterna dúvida filosófica: "E como é que vou governar, Millôr? O Manteiga disse que sem essa gaita não é possível tocar o país, quero dizer, o Bolsa Família".
Honesto Lula (Otelo, do Shakespeare, pro Iago, do mesmo), a coisa é tão simples que salta aos olhos de um cego (deficiente visual): Libera as drogas! Tudo. É. TUDO!
Olha, companho, o dinheiro dos impostos sobre drogas (e fabrico e comercialização, transporte, tudo devidamente estatizado) vai dar até pra avião novo e algum pra distribuir entre os afro-africanos.
"Liberar drogas, Millôr, tu tá maluco? Só o Gabeira vai ficar a favor! Tu te responsabiliza pelo que vem depois?"
Eu não me responsabilizo por pomba nenhuma, companho, não sei o que vai acontecer depois. Quem tem prospectiva, expectação, probabilidades, antevisão, prenúncio, conjectura, prognóstico, antevisão, cheirar ao longe, prelibação, presciência, vaticínio, é economista. Pergunta aos economistas aí. Tem tanto.
Mas uma coisa eu te garanto: liberadas as drogas, na mesma hora, não é no dia seguinte, não, companho, desaparece o traficante. Não precisa esperar os tais 20 anos pra que a educação e o apoio social (escolas, creches, centros de cultura e o escambau) resolvam a questão. E uma coisa eu prevejo, companho – ninguém morre mais de bala perdida.
Efeito negativo – sei lá. Os Estados Unidos, que tanta coisa nos encinam, encinam ou insinão?, podem nos ensinar também essa. Nos 10 ou 12 anos que teve por lá a Prohibition (no Brasil Proibição ou, mais popular, Lei Seca) nunca se bebeu tanto. Imediatamente, como aqui, se criou o "crime organizado". E a polícia corrupta. O mínimo que os policiais honestos faziam era revelar uma batida. Lembra alguma coisa? Nos speakeasy ("Falabaixo!, cara, tem sempre gente ouvindo") era um luxo encher a cara.
Reinava então, rei de Chicago, o saudoso Al Capone (diz aí sinceramente: se aparecer um filme novo com ele você vai ou não vai correndo ao cinema?). Cada tempo tem o Che Guevara que merece.
E, lá como aqui, ninguém escapava – até o genial Piazzola, com 12 anos, de vez em quando o pai mandava entregar uma encomenda de moonlight (uísque de banheira). Avião, sim, senhor.
Suspensa a Lei Seca, é claro que o crime derivou pra outras formas de lucro, como seqüestro e "proteção".
Claro que aqui – agora vou bancar o economista e prever – o crime também vai pra outros lados. Mas bala perdida, repito, nunca mais. Nem a morte e o crime estarão localizados em áreas onde vive grande parte da população pobre.
E é evidente que vai aumentar muito o assalto a banco. Quanto a isso, juro, não tenho opinião formada. Eles que são brancos que se entendam.
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