29.11.07

Homenagem a Miura

Eu poderia começar contando sobre as diversas vezes em que eu, indo de carona com o meu pai para a UnB (porque eu ainda não tinha a carteira), presenciava quando ele parava o carro para fazer com que os ‘furões’, esses motoristas que tentam furar um congestionamento andando pelas beiradas, deixassem o acostamento e voltassem à pista.
Ou sobre quando ele começou a andar com uma luzinha que piscava no carro, para que as pessoas pensassem que era um radar móvel, e diminuíssem a velocidade.
Ou então, sobre a primeira vez em que tentei passar por uma faixa de pedestres, e os carros realmente pararam para eu atravessar! E eu sabia que aquilo era obra do meu pai.
Mas hoje, eu vou voltar um pouco mais no tempo. Antes da Paz no Trânsito, antes da diretoria, antes mesmo dessa ‘barriguinha’ (que, como ele anda fazendo exercícios, está até menor do que a minha). Eu ainda era criança, o Danilo (o segundo filho) era um pinguinho de gente, e eu nem sei se o Marco (o mais novo) já era nascido.
Era num desses eventos de comemoração do Dia dos Pais, em que as ‘tias’ do colégio faziam algumas brincadeiras e os pais participavam. Em uma das brincadeiras a gente simulava uma situação, onde as crianças corriam algum tipo de perigo, e os pais as protegiam de alguma forma.
A imagem desse dia que eu tenho na minha cabeça, é de mim e do meu irmão agachados, enquanto o meu pai, usando uma folha de jornal velho, nos protegia da chuva ‘imaginária’.
O meu pai nunca teve muito tempo ‘livre’, pra ficar brincando aleatoriamente com os filhos. Não foi ele que me ensinou a jogar futebol - se bem que eu nem sei se ele sabe jogar futebol, já que eu nunca o vi jogando. Quando nós acordávamos para ir à escola, ele já tinha saído, que quando ele voltava nós já estávamos dormindo, ou ele estava muito cansado e ia direto na cama.
Quero dizer, ele não era exatamente o exemplo do pai presente. Mas, ainda assim, eu não me lembro jamais de me sentir ‘abandonado’. Claro que temos a minha mãe, que sempre nos mimou demais, além da forte presença dos meus avós, da minha tia e dos meus tios. Mas, eu não me sentia ‘abandonado’ por ele. Sempre que precisávamos, ele estava lá. Ele já me levou pro hospital no meio da noite. Nos momentos importantes, aniversários, formaturas, apresentação de teatrinho da escola, lá estava ele, armado com a filmadora no ombro, que na época era um trambolho que devia pesar uns três ou quatro quilos.
A nossa educação não foi de proibições insensatas, como a maioria dos pais teima em fazer. Ele sempre foi justo: quando havia a punição, é porque havia motivo. Ele sempre educou pelo exemplo, provavelmente a única maneira de se educar de verdade, e eu digo, é raro você encontrar um exemplo tão bom como o do ‘seu’ Luis.
Voltando ao motivo desta cerimônia, eu acredito que o meu pai foi, durante os anos em que ficou à frente do DETRAN, também ‘pai’ da cidadania brasiliense. Sempre esteve alerta, observando os resultados de suas campanhas. Puniu com rigor quando havia o que se punir. Não cedeu às pressões que iam contra seus princípios. E, acima de tudo, deu um exemplo de convicção e honestidade.
Assim, ele não apenas baixou as estatísticas de mortes no trânsito. Ele educou as pessoas, alterou seu comportamento, criou uma cultura de respeito.
Com isso, eu digo: Brasília deve ter sim muito orgulho deste ‘filho honorário’, assim como nós temos desse pai. Obrigado.