30.11.07

Vestibular, estudantes e festas

RAPHAEL CAMARÃO TREVIZAN

No início da semana, uma manifestação assinada por alguém que se dizia representante do DCE da Uem foi reproduzida no Blog do Rigon, defendendo a idéia de que a repressão aos estudantes, tanto em época de vestibular, quanto durante o resto do ano, seria ridícula. Para tanto, alega o (a) subscritor (a) do texto, que as redondezas da universidade deveriam ser habitadas somente por estudantes, de forma que as festas e algazarras, típicas desta época da vida, afirma o texto, não mais representariam incômodo. Ainda, assevera que a Uem já está naquele local há 30 (trinta) anos, e que, os moradores que não gostam da situação deveriam se mudar do bairro.
Em seguida, afirmou-se que o (a) autor (a) do texto não representaria o órgão estudantil da universidade maringaense, e que o mesmo ainda não se manifestara. Hoje (30/11), é noticiado pelo referido blog o posicionamento oficial dos representantes dos estudantes da Uem.
Todavia, analisando ambos os textos, percebe-se que nenhuma das argumentações montadas tem embasamento consistente. Inicialmente, a regra dos ‘incomodados que se mudem’ não pode ser aplicada num Estado Democrático de Direito. Há regras previstas no nosso ordenamento jurídico para o perfeito convívio social. Não se pode exigir que uma pessoa se mude de residência exclusivamente porque seus vizinhos estão em uma ‘fase da vida em que gostam de festar’. Festar pode; não pode é infringir a lei, causando perturbação à tranqüilidade. E é isso o que acontece semestralmente nos vestibulares. Ora, se assim não fosse, não haveria tanto medo dos estudantes com relação à fiscalização da força-tarefa criada através da parceria entre Ministério Público, Prefeitura Municipal e Polícias Militar e Civil.
Outrossim, a culpa da situação caótica que nos espera esse final de semana também não é governo Lula, coitado! A solução não é acabar com o Reuni, como aduzem os dirigentes da atual gestão do DCE da Uem. A discussão também não deve passar pela repressão policial, que ao contrário do que afirma DCE, não deve se destinar somente aos menos favorecidos, excluindo os estudantes, cuja maioria é composta pela classe média, como se sabe. Tampouco, a resposta ao problema é a construção da Casa do Estudante, que traria diversos outros pontos positivos.
A questão não está em onde eles fazem a bagunça e a conseqüente infração penal, mas sim em fazê-la, simplesmente. É extremamente infundada a afirmação de que em um lugar onde só vivem estudantes, a festa (como é feita!) não representaria um problema. A perturbação causada pelos arruaceiros que se juntam em torno da Universidade em época de vestibular não seria menor na Casa do Estudante. Em primeiro lugar, pois boa parte dos que ali ficam, não são estudantes, muito menos vestibulandos. Em segundo lugar, pois na Casa do Estudante haveria acadêmicos sérios, que se divertem como qualquer outro, mas sem atrapalhar e importunar a vida de ninguém. Assim, estes alunos, como todos os outros moradores da Zona 07, também seriam prejudicados pela perturbação e iriam querer uma posição do poder público.
Ademais, é inadmissível que se tolere a prática de crimes e de infrações administrativas, afirmando que os autores são estudantes, e que se trata, apenas, ‘de uma fase da vida’. A solução, de fato, é a atitude de radicalismo na fiscalização das festas. Durante muito tempo o Estado permitiu que fossem transgredidas regras, fazendo vista grossa com relação a infrações ocorridas nos vestibulares, tudo em prol do interesse público, e principalmente dos jovens, vez que, aparentemente, não havia tamanho descontentamento dos moradores da Zona 07. A partir do momento que o interesse público muda, ou que cidadãos passem a manifestar seu interesse, torna-se inerente à função de administrador público a tomada de medidas que visem à minoração das causas do dano.
É, portanto, plausível ponderar que, a solução, por ora, deve ser a repressão, por mais reacionário que pareça. É necessário que se mantenha a ordem pública. Sabe-se que a vida dos vestibulandos vai parar este final de semana, diante da importância destes dias em suas vidas. Entretanto, o mesmo não acontece com a vida dos outros milhares de moradores do bairro, e nem assim deve ser. Desta forma, a intensificação da fiscalização torna-se o caminho de volta ao ponto de equilíbrio anteriormente existente, em que havia confraternização dos jovens, sem que houvesse o descabido transtorno, hoje presente.

Raphael Camarão Trevizan, maringaense há 20 anos e estudante da Uem.