28.2.08

Minha primeira visita pastoral

DOM ANUAR BATTISTI

Depois de dois anos e quatro meses caminhando com a Igreja que está nesta Arquidiocese, iniciei as visitas nas paróquias, cumprindo assim uma missão que me foi confiada. A cada cinco anos, tenho como dever visitar as cinquenta e duas comunidades paroquiais, além das celebrações de missas e de confirmação que faço cada ano. Como bispo, se faz necessário, estar mais perto da realidade em que vive o nosso povo, conhecendo, sentindo, participando, marcando presença no caminho da comunidade, seja no campo religioso como social e político. Esse conhecimento é extremamente necessário porque o pastor deve conhecer as ovelhas e chamá-las pelo nome, a fim de dar a vida amando sempre, amando por primeiro, amando a todas.
Foi com este propósito que comecei as visitas pela cidade de Paiçandu, onde o povo está organizado em duas grandes paróquias, com três presbíteros e centenas de lideres colaborando nas mais variadas pastorais e movimentos. A minha primeira impressão foi ver uma cidade relativamente jovem, cheia de esperanças, com um povo sofrido, construindo dignidade e cidadania na base da fé sem medo dos desafios, organizado em pequenas comunidades onde todos se conhecem, com profundo sentido de solidariedade. A característica que marcou todos os encontros foi a alegria e a hospitalidade.
Desde o encontro na prefeitura, passando pelas escolas, hospital, posto de saúde, creches, APAI, APMI, PETI, escola do MST, penitenciária, PM, Câmara dos vereadores, enfermos, encontro com as lideranças políticas e religiosas, celebrações nas comunidades, contemplei rostos transmitindo satisfação pela oportunidade de nos conhecer, refletir e orar juntos, com a certeza de que “se o Senhor não construir a casa, em vão trabalham os que a constroem”. Em todos os encontros ficou a marca da amizade e do compromisso de sermos parceiros na construção de um mundo mais justo e fraterno. Os problemas que não são poucos, as dificuldades de todo tipo, permanecem como trampolim e não como obstáculos.
Aqui como lá e lá como aqui, os escassos recursos financeiros e humanos ficam a desejar, a formação e qualificação da nossa gente, talvez seja o maior desafio dos tempos atuais. Formar para servir, formar para a solidariedade, para a busca do bem comum, utilizando as forças que existem na própria comunidade, sem esperar milagres, mas acreditando no pouco bem aproveitado do que no muito esbanjado. O pior de tudo é que às vezes, até mesmo o pouco, não é bem aproveitado. Aprendi muito no contato pessoal, nas experiências de vida, na confiança em Deus diante dos sofrimentos. Foi uma escola ao céu aberto, onde o sol e as nuvens serviam de luz, de sombra para apreciar a riqueza de cada encontro. O clamor pela vida e pela vida em abundância permeou cada passo desta visita.
Sinto-me feliz e agradecido a Deus, aos presbíteros e ao povo de Paiçandu pela acolhida e a adesão ao chamado de continuar o caminho na fé, fortalecidos na esperança, animados na solidariedade, convocados para a prática da justiça, à luz da Palavra de Deus. Neste tempo de quaresma, preparando-nos para a celebração da Páscoa, vida nova conquistada por Cristo na cruz e na ressurreição, convido a todos a não perder tempo, a não deixar para depois o que podemos fazer agora. Fiéis ao momento presente, construindo pedra por pedra, o edifício da paz e da solidariedade, cujo construtor é o próprio Deus e nós operários. No final de tudo diremos como o apóstolo: somos servos inúteis.

(*) Arcebispo metropolitano de Maringá