7.3.08

Espiritualidade e compromisso em Maria

Luiz Alexandre Solano Rossi

Um dos principais modelos que nós cristãos temos é o de Maria. A partir dela podemos pautar nosso comportamento tanto em relação à responsabilidade que temos com a sociedade, com o próximo, com a igreja e, afinal, a responsabilidade com a própria interioridade.
Talvez uma das maneiras mais interessantes de compreender e viver a vida cristã seja através da experiência de Maria. Olhar para ela é um verdadeiro desafio. Afinal, ao contemplá-la, não estamos apenas diante da santidade da beleza de uma bem-aventurada, mas, sim, diante de uma santidade que nos interpela e que nos chama para a mesma responsabilidade que assumiu. Não olhar para Maria também significa negar a missão e, fatalmente, a própria função da Igreja.
Maria é a primeira a entender a responsabilidade do ser humano diante das forças sociais que escravizavam e maltratavam os seres humanos, principalmente os mais pobres. Ao se colocar diante de Deus para cumprir a vontade d’Ele, seu ventre passa a abrigar aquele que seria o mais resistente opositor do império romano. Maria é exemplo de discípula que não se esconde das responsabilidades de transformação da realidade. Ao contrário, em seu ventre bate o coração do libertador. Ela é a mãe da libertação.
Maria é a primeira a perceber que o outro é tão ou mais importante do que nós mesmos. Ela se dispõe a gerar um filho para o mundo. Porque não dizer que o ventre de Maria gesta um ser humano globalizado. Um filho que caminha em direção a todos os demais filhos que estão dispersos pelo tempo e pelo espaço. Em Cristo nos encontramos no ventre de Maria. Ela é a mãe do Outro para os outros.
Maria é a primeira de uma comunidade de muitos. Em Maria nos encontramos numa pequena congregação. Ela sabe que não se encontra só e que, por mais que a situação se apresente como contrária, a presença da comunidade será sempre mais forte e eficaz. Ela é a mãe das comunidades e a comunidade mãe. Nela nos reunimos para celebrar o sacramento do Filho e a comunhão dos filhos.
Maria é modelo de profunda espiritualidade. Ela é bem-aventurada não apenas porque aceita a mais incrível das missões. Sua bem-aventurança se encontra também na maneira como ela se doa a um projeto que não somente mudaria a sua própria vida, mas também a vida de todas as pessoas em todas as épocas. Ela é a mãe da espiritualidade que nos contagia a prosseguir como seus filhos.
Mas é necessário afirmar algo essencial. Caminhar com Maria provoca em nós a maior de todas as revoluções: aprendemos a humanizar as relações uns com os outros e, com isso, tornamo-nos mais humanos.

Prof. Dr. Luiz Alexandre Solano Rossi