Intriga e corrupção no reino animal
Estudos mostram: as formigas não são tão solidárias e trabalhadoras quanto aparentam, os macacos são puxa-saco e os camaleões usam suas cores para atrair parceiros
João Rafael Torres
Da equipe do Correio Braziliense
De duas, uma: ou a aproximação dos bichos com os homens está contaminando o comportamento deles, ou nós, humanos, herdamos certos atributos de caráter de nossos ancestrais mais primitivos. Recentes descobertas científicas mostraram que representantes do reino animal também nutrem atributos como exibicionismo, corrupção e até o puxa-saquismo — coisas comuns no mundo civilizado. As formigas sempre foram associadas a bichos trabalhadores, organizados, cooperantes e que convivem socialmente em harmonia. Mas, pelo visto, será preciso revisar a fábula que exalta essas qualidades e achincalha a preguiça da cigarra. Depois de meses de estudos, pesquisadores das universidades de Leeds, no Reino Unido, e de Copenhagen, na Dinamarca, comprovaram que elas jogam sujo para se promover no mercado competitivo.
Toda comunidade de formigas está centralizada na figura de uma rainha, responsável pela procriação. As demais agem como operárias para alimentá-la e fecundá-la. Até concluírem esse estudo, acreditava-se que todas as formigas filhote teriam chance de se transformar em rainhas, mas que a colônia escolhia apenas uma para sucessora e a preparava com uma alimentação especial. Os cientistas descobriram que, na verdade, o “sangue azul” é privilégio apenas de alguns filhotes. Quando os pais instintivamente percebem o potencial do filhote, passam a alimentá-lo de forma especial, sem “contar” aos demais da particularidade, por medo de que o plano de privilégio seja interrompido com a morte. Os filhotes tomariam medidas deliberadamente para evitar serem detectados, espalhando-se e, dessa forma, passam despercebidos pelos colegas altruístas a quem exploram. Quando já estão bem nutridos, saem para procriar e se tornam rainhas de novas colônias. Traição, corrupção, uma verdadeira rede de intrigas.
Outros que parecem gostar de atalhos para crescer na vida são os macacos. Pesquisa multinacional publicada na revista New scientist mostra que os nossos primos primatas agem com esperteza para crescer dentro do grupo. Nada de sorrisos simpáticos ou troca de favores. Eles vão além: segundo o estudo, alguns dos bichos analisados têm dedicação especial ao chefe do bando. Imitam o comportamento, alisam, coçam as costas. E, não se sabe por que, mas algumas vezes a aliança é recompensada com privilégios dentro do grupo.
Sedução à flor da pele
Crescemos aprendendo na escola que os camaleões mudavam de cor para se esconder dos predadores. Certo, eles também fazem isso. Mas se aproveitam da maquiagem natural para se promoverem, inclusive para atrair parceiros. Isso ocorre porque, segundo estudo publicado na revista científica PloS Biology, os répteis teriam a capacidade de enxergar raios ultravioleta. As mudanças de cor, que para nós parecem bastante sutis, seriam como colocar uma peruca blackpower rosa-choque ou uma capa de chuva amarela, aos olhos deles: cada camaleão percebe nitidamente quando os companheiros estão amedrontados, nervosos ou sensuais.
Por falar em sensualidade, as aranhas preferem os tímidos. Aqueles bem quietinhos, que se fingem de morto. E os machos espertos, por sua vez, aproveitam-se disso para aumentar a chance de conquista. Trine Bilde, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, percebeu que os machos da espécie Psaura mirabilis, mais conhecida como aranha-lobo, tinham diversas estratégias de conquista: preparavam jantares românticos com os melhores mosquitos da redondeza, ofereciam as melhores casas… Mas as meninas gostavam mesmo eram daqueles que ficavam quietinhos, deitados no chão, imóveis. Eles lideraram nas cópulas, que eram mais freqüentes e prolongadas que as oferecidas pelos demais. Dessa forma, as fêmeas conseguiam que mais ovos fossem fecundados. Esses bichos…
João Rafael Torres
Da equipe do Correio Braziliense
De duas, uma: ou a aproximação dos bichos com os homens está contaminando o comportamento deles, ou nós, humanos, herdamos certos atributos de caráter de nossos ancestrais mais primitivos. Recentes descobertas científicas mostraram que representantes do reino animal também nutrem atributos como exibicionismo, corrupção e até o puxa-saquismo — coisas comuns no mundo civilizado. As formigas sempre foram associadas a bichos trabalhadores, organizados, cooperantes e que convivem socialmente em harmonia. Mas, pelo visto, será preciso revisar a fábula que exalta essas qualidades e achincalha a preguiça da cigarra. Depois de meses de estudos, pesquisadores das universidades de Leeds, no Reino Unido, e de Copenhagen, na Dinamarca, comprovaram que elas jogam sujo para se promover no mercado competitivo.
Toda comunidade de formigas está centralizada na figura de uma rainha, responsável pela procriação. As demais agem como operárias para alimentá-la e fecundá-la. Até concluírem esse estudo, acreditava-se que todas as formigas filhote teriam chance de se transformar em rainhas, mas que a colônia escolhia apenas uma para sucessora e a preparava com uma alimentação especial. Os cientistas descobriram que, na verdade, o “sangue azul” é privilégio apenas de alguns filhotes. Quando os pais instintivamente percebem o potencial do filhote, passam a alimentá-lo de forma especial, sem “contar” aos demais da particularidade, por medo de que o plano de privilégio seja interrompido com a morte. Os filhotes tomariam medidas deliberadamente para evitar serem detectados, espalhando-se e, dessa forma, passam despercebidos pelos colegas altruístas a quem exploram. Quando já estão bem nutridos, saem para procriar e se tornam rainhas de novas colônias. Traição, corrupção, uma verdadeira rede de intrigas.
Outros que parecem gostar de atalhos para crescer na vida são os macacos. Pesquisa multinacional publicada na revista New scientist mostra que os nossos primos primatas agem com esperteza para crescer dentro do grupo. Nada de sorrisos simpáticos ou troca de favores. Eles vão além: segundo o estudo, alguns dos bichos analisados têm dedicação especial ao chefe do bando. Imitam o comportamento, alisam, coçam as costas. E, não se sabe por que, mas algumas vezes a aliança é recompensada com privilégios dentro do grupo.
Sedução à flor da pele
Crescemos aprendendo na escola que os camaleões mudavam de cor para se esconder dos predadores. Certo, eles também fazem isso. Mas se aproveitam da maquiagem natural para se promoverem, inclusive para atrair parceiros. Isso ocorre porque, segundo estudo publicado na revista científica PloS Biology, os répteis teriam a capacidade de enxergar raios ultravioleta. As mudanças de cor, que para nós parecem bastante sutis, seriam como colocar uma peruca blackpower rosa-choque ou uma capa de chuva amarela, aos olhos deles: cada camaleão percebe nitidamente quando os companheiros estão amedrontados, nervosos ou sensuais.
Por falar em sensualidade, as aranhas preferem os tímidos. Aqueles bem quietinhos, que se fingem de morto. E os machos espertos, por sua vez, aproveitam-se disso para aumentar a chance de conquista. Trine Bilde, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, percebeu que os machos da espécie Psaura mirabilis, mais conhecida como aranha-lobo, tinham diversas estratégias de conquista: preparavam jantares românticos com os melhores mosquitos da redondeza, ofereciam as melhores casas… Mas as meninas gostavam mesmo eram daqueles que ficavam quietinhos, deitados no chão, imóveis. Eles lideraram nas cópulas, que eram mais freqüentes e prolongadas que as oferecidas pelos demais. Dessa forma, as fêmeas conseguiam que mais ovos fossem fecundados. Esses bichos…
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