9.4.08

‘Paguei para me livrar deles’, diz empresário

Em entrevista exclusiva à Folha de Londrina, Alexandre Guimarães confirmou pagamento de propina a vereadores e disse que foi coagido pelo ex-vereador Henrique Barros


Em entrevista exclusiva à FOLHA, o empresário Alexandre Guimarães, proprietário do Restaurante Mercado Guanabara, desmentiu o teor do depoimento de Henrique Barros ao juiz da 3 Vara Criminal, Marcos José Vieira. Na primeira declaração à imprensa desde que o escândalo na Câmara veio à tona, Guimarães disse que foi ameaçado e que Barros falava em nome de outros vereadores ao exigir propina em troca da aprovação da lei que liberou o horário de funcionamento do restaurante. O ex-vereador foi preso pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) logo após receber o segundo pagamento de R$ 5 mil de Guimarães. A seguir, as principais declarações:

Folha: Como tudo aconteceu?
Eu tenho um estabelecimento no Mercado Municipal do Guanabara e existe uma lei limitando o horário de funcionamento dos mercados às 22h. Fui autuado pelos fiscais diversas vezes, recorri na prefeitura, mas me falaram que eu teria que procurar algum vereador para mudar a lei. Como tenho amizade de longa data com o Henrique, fui até ele. Ele propôs uma lei, colocou em votação e foi barrada. Daí, dei até logo, obrigado, e tchau.

Folha: O que fez em seguida?
Procurei meu advogado e entrei com um pedido de liminar na Justiça - em razão de várias contradições que há nessa lei. Ali não é um prédio público, é uma autarquia, então não pode ser um mercado municipal. Segundo, a minha atividade e a lei de zoneamento permitem. Daí a gente obteve a liminar para trabalhar, eu fiquei tranquilo, os fiscais não voltaram mais e ficou tudo regular, dentro da lei.

Folha: Chegando em dezembro...

Quando foi dezembro, eu recebi uma ligação rápida do Henrique, no meio de uma sessão da Câmara, dizendo: olha, estou conseguindo colocar aquele seu projeto numa lei que a gente está aprovando. Estranhei porque fazia uns três meses que a gente não falava mais disso. Aí, depois da sessão ele ligou de novo e falou que resolveu meu problema, mas que agora precisava acertar a verba com o pessoal. Aí, falei que não tenho, que não precisava, e ele insistiu que precisava sim, que sabe como é, que é uma questão de fio do bigode... Ele até falou, cuidado que esses caras são imprevisíveis, eles podem te retaliar. Era no Natal e, diante disso, acabei pagando R$ 5 mil. Depois do ano novo ele voltou e disse que precisava receber o resto. Eu falei: ‘’Henrique, não tem como’’. Ele respondeu que eu ia colocá-lo numa situação ruim, porque já tinha dado o dinheiro para eles (vereadores) e que eu estava devendo para ele. Aí a gente acertou que se eu desse mais R$ 5 mil ficaria tudo certo.

Folha: Como foi o segundo pagamento?
Ele foi até meu escritório, o funcionário me ligou e eu falei que podia pagar. Nisso, eu estava no Guanabara e chega um policial e fala, Alexandre, eu sou o policial tal, você precisa me acompanhar porque o Henrique foi preso. Eu não fazia idéia do que estava acontecendo. Fui até lá e me relataram toda a história, que já estavam fazendo um acompanhamento, que os telefones estavam todos grampeados, que escutaram todo o agendamento e pegaram ele recebendo o dinheiro. Diante de todo esse cenário, falei a verdade e contei exatamente essa história. Esse foi meu depoimento no Gaeco - que bate exatamente com o depoimento do Henrique sem a gente ter tido nenhum contato, nem dentro do Gaeco, nem antes, nem depois.

Folha: Por que você aceitou a exigência? Foi a primeira vez que pagou propina?
Foi, foi a primeira vez. Eu me senti injustiçado, coagido, ameaçado. É uma sensação horrorosa, a pior que existe, você se sente impotente para fazer qualquer coisa. Naqueles momentos, você tem a visão de que é muito pequeno perto do todo. E é isso que intimida. Eu tenho família e não posso colocar isso em risco. Sobre a liminar que regularizava o funcionamento do restaurante, as palavras dele foram assim: uma liminar não é para sempre, ela pode cair, e a lei não, ela te dá o apoio. E você sabe como esse pessoal é, de madrugada eles vão e alteram uma lei só para te ferrar. Era essa a ameaça. Se a liminar caísse, eles me prejudicariam. E o Henrique disse ainda que a retaliação poderia vir do Executivo, do Legislativo, de qualquer lugar.

Folha: Você tentou relutar?
Tentei adiar, negociar, mas chegou uma hora em que a pressão era tão grande, com ligação diária cobrando, exigindo o pagamento, que eu fiz para me livrar.

Folha: Ficou claro para você que havia outros vereadores envolvidos?
Ele sempre falou que existia um esquema e que esse dinheiro ia ser repartido. Mas ele nunca falou para quem, quando nem como.

Folha: Se você passasse pela mesma situação de novo, como reagiria?
Olha, eu aprendi muito com toda essa história. Ainda mais na situação em que eu estava, amparado pela Justiça, não daria o dinheiro. Daí, se eu sofresse algum tipo de retaliação, eu denunciaria. Eu só quero poder trabalhar, ganhar meu dinheiro, pagar meus impostos e ficar tranquilo.

Folha: O Henrique Barros disse em juízo que não houve propina e que o dinheiro se referia um carro que você comprou dele...
Eu comprei o carro do pai dele há quase cinco anos, foi pago, transferido e acabou. Não teve nada além disso.

Folha: Você vai confirmar isso tudo em juízo?
Sim, vou confirmar toda a verdade que já contei ao MP.

Folha: Como ficou a imagem do Henrique Barros para você após o último depoimento?
Eu fiquei bastante impressionado com a capacidade de mentir que ele teve. Ele vai ter que contar mentira o resto da vida para justificar a mentira que ele falou.

Fábio Cavazotti
Reportagem Local