Agricultores se mobilizam contra furtos e roubos. E exigem volta da Patrulha Rural
Nos dois últimos anos, nos 23 municípios sob jurisdição do Quarto Batalhão da Polícia Militar (Maringá), foram registrados 179 furtos e roubos contra propriedades rurais. No período, os ladrões levaram cinco tratores e houve o registro de 18 ocorrências de furtos de gado. Também foram furtados e roubados grandes quantidades de insumos agrícolas, veículos, motoserras e demais itens dos imóveis rurais.
Esta é, pelo menos, a estatística oficial. Na prática, o número de ocorrências policiais contra o patrimônio no meio rural é infinitamente maior. Em muitos casos, proprietários rurais e empregados ficaram como reféns, foram agredidos e carregam ainda hoje traumas pela violência. Não existe levantamento sobre o total recuperado.
Diante desse quadro alarmente e visando amenizar a situação, o Sindicato Rural de Maringá e a Cocamar promoveram ontem, na sede da entidade classista, reunião com a Câmara Técnica do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá (Codem). Ao final, os participantes decidiram pela mobilização conjunta de entidades do campo, Conselho Comunitário de Segurança e classe política.
O primeiro passo será exigir – do Governo do Estado – o retorno da Patrulha Rural. “Temos que trabalhar em paz e não sob ameaça constante de quadrilhas de marginais”, adverte José Antônio Borghi, presidente do Sindicato Rural e coordenador da Câmara Técnica do Codem. (A mobilização conta com o apoio de todas as entidades representadas na Câmara Técnica).
Segundo a major Audilene Rocha, sub-comandante do Quatro BPM e que participou da reunião, a Secretaria da Segurança Pública se comprometeu em liberar – até final do ano – três viaturas específicas para o patrulhamento rural de 23 municípios da região.Na realidade, este tipo de policiamento ostensivo virá com quase seis meses de atraso considerando-se o cronograma da própria Secretaria da Segurança Pública do Paraná.
Serão treinados 10 militares divididos em cinco equipes para percorrerem dia e noite estradas vicinais, carreadores e distritos rurais. “A simples presença dos policiais vai inibir, em grande parte, a ação dos marginais”, acredita a oficial da Polícia Militar.
Lição de casa
Os proprietários rurais também precisarão fazer a lição de casa. Afinal, quando deixam porteiras abertas, sem cadeado e as propriedades rurais vazias (às vezes, até sem um cão de guarda), dão o sinal verde para as investidas dos marginais. Assim pensa o delegado-operacional da 9 Subdivisão Policial de Maringá, Nilson Rodrigues. “Se o bandido encontrar dificuldades, ele desiste e vai em busca da propriedade mais desprotegida para que sua ação seja facilitada”, diz o delegado.
As autoridades policiais alertaram também os proprietários rurais para redobrarem a atenção em relação a estranhos transitando na vizinhança. Devem ser anotadas placas de veículos, características dos visitantes, colocados cadeados nas porteiras e, sempre que necessário, acionada imediatamente a Polícia.
Não aceitar que estranhos “visitem” a propriedade e tomar cuidados na contratação de trabalhadores diaristas são providências que ajudam a Polícia a identificar eventuais ladrões. Devem ser contratados somente trabalhadores avulsos conhecidos e que tenham a “ficha limpa”.
Uma medida complementar: a Polícia Rodoviária deverá reforçar a fiscalização sobre qualquer veículo que transporte máquinas, implementos, bovinos ou insumos. O condutor terá que comprovar a procedência idônea.
No caso de furto de máquinas e implementos, os agricultores podem dificultar a ação dos marginais. Basta seguir o exemplo do casal de produtores rurais Antônio Molonha e Olga Agulhon: identificar com tinta em máquinas e implementos agrícolas o nome da propriedade e os donos. Desta forma, se os marginais estiverem transportando produtos roubados com identificação e forem parados por policiais, serão automaticamente detidos.
O presidente do Conselho Comunitário de Segurança, Everaldo Belo Moreno, que apóia a mobilização dos produtores rurais, disse que os produtores rurais não podem apenas reivindicar viaturas e combustível, mas, prioritariamente, aumento do efetivo policial militar e civil. “A alta incidência de criminalidade na cidade e no campo é favorecida pelo baixo número de policiais porque não existe reposição regular do efetivo,” acusa.
Sua entidade aceita participar de mobilização para arrecadar fundos, comprar e doar duas viaturas à Patrulha Rural, mas com uma condição: contrapartida do Governo do Estado na alocação de efetivo permanente e o compromisso de que a Patrulha Rural não será desmobilizada depois de algum tempo, tal como aconteceu no governo Lerner. Com as três viaturas confirmadas pelo Governo do Estado e mais duas que podem ser doadas pela comunidade, o total de veículos percorrendo o meio rural da região de Maringá subiria para cinco. (Luiz Carlos Rizzo)
Numa só propriedade, em questão de horas,
ladrões levam cinco caminhões com bois
Os agricultores presentes à reunião de ontem, no Sindicato Rural de Maringá, relataram diversos tipos de ocorrências policiais no meio rural. Furtos de tratores, insumos agrícolas, pulverizadores, motoserras, veículos e aparelhos domésticos são comuns. Existem casos de propriedades serem furtadas mais de uma vez no mesmo mês. Marcos Bruschi, Presidente do Conselho Municipal de Agricultura e diretor do Sindicato Rural de Maringá, relatou o roubo – em questão de horas – de cinco caminhões carregados de bois numa propriedade da região de Campo Mourão. Os funcionários, durante a ação dos bandidos, foram mantidos como reféns.
Existe consenso de que, quando existe efetivo policial suficiente, a criminalidade cai e a Polícia alcança maior eficiência em sua ação contra o crime. Mas, existe um outro problema: os marginais presos quase sempre são liberados de imediato diante das brechas oferecidas pela lei. Isto não é culpa do Poder Judiciário, que apenas cumpre a legislação.
Uma constatação: por trás da grande maioria dos furtos e roubos contra as propriedades rurais está a necessidade dos bandidos conseguirem dinheiro para a compra de drogas. Pequenos furtos são cometidos nas propriedades rurais até por trabalhadores diaristas por uma necessidade básica: arrumar dinheiro para comprar crack, a droga dos viciados pobres. (Luiz Carlos Rizzo)
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