20.6.08

Factóides

1. A expressão “factóides” foi criada pelo escritor Arthur Miller, e depois usada por Alberto Dines em um artigo quando trabalhava em Lisboa. Em 1991, quando o atual prefeito do Rio, realizava pesquisas sobre comunicação política, duas leituras, uma do livro de Katleen Jamieson (Comunicação na Era Eletrônica) e outra de um artigo de Stela Senra (O Último Jornalista) ajudaram a entender as razões de um fato se transformar em noticia. Uma delas -numa sociedade da imagem- é que os fatos venham carregados de imagem, tanto em relação a quem está no centro dele, como em relação a quem narra.

2. A busca de uma palavra que traduzisse isso o levou de encontro ao uso da expressão “factóide”. Numa reportagem sobre o prefeito, na revista Veja em 1993, o jornalista Alfredo Ribeiro, destacou a questão, exagerando. O titulo da matéria foi: “Governar é lançar Factóides”. O prefeito estava numa fase de testes. Havia conseguido emplacar diversas fotos em matérias onde estava no centro dos fatos, havia conquistado várias capas de jornais e revistas e introduzido nos programas de rádio em que era convidado, a narrativa através de imagens.

3. O excesso nestes testes terminou lhe valendo como interpretação: maluco... O desgaste valeu, pois se passou a ter uma tecnologia experimentada de comunicação política, desenvolvida e comprovada. Mas -talvez por preconceito- factóide passou a ter uma tradução equivocada. Do que é -um fato carregado de imagem- passou a ser percebido como -um pseudo-fato- que é coisa diferente. Já em 1996 o “Aurélio” o incorporava no dicionário. Mas a versão do factóide como pseudo-fato se tornou mais difundida.

4. A partir de um certo momento, editores passaram a ter um cuidado excessivo com as imagens que o prefeito carregava em seus atos e fatos, o que produziu uma exclusão desnecessária de várias matérias, numa espécie de atenção para que “ele não nos use”.

5. Toda essa introdução é para chamar a atenção dos políticos -pois precisam usar esta tecnologia, buscando a notícia através de factóides- ou seja, fatos carregados de imagem. Quando a imagem não carrega fatos, esta é percebida pelas pessoas de forma negativa, como alegorias vazias e até pseudo-fatos, negando o fato que se quer destacar. Por exemplo: quando o presidente vai a uma plataforma de petróleo e mostra as mãos com óleo ele produz um factóide, pois a imagem carrega ou expressa um fato efetivo que quer destacar. Mas quando o governador anda de triciclo em Berlim, ele provoca um efeito negativo, no máximo uma alegoria. Não há fato: a imagem está solta.

6. Muitas vezes quando um político busca a imagem sem se preocupar com o fato, ele oculta o fato. Por exemplo: numa inauguração da reforma do Maracanã, presidente e governador resolveram bater pênaltis. Conseguiram a imagem, mas ocultaram o fato. Na comemoração de um ano de funcionamento de um posto de saúde, o governador dançando com a esposa, destacou o dia dos namorados, mas ocultou o fato. O presidente quando coloca o chapéu do MST, legitima o MST. Quando coloca um boné na Bolsa de Valores de SP, oculta o fato. A foto deveria ser dele batendo o martelo como se faz em NY.

7. O prefeito na fase de testes cometeu esses erros algumas vezes. Inevitável para aprender. Mas com anos em que essas questões estão mais que analisadas e são amplamente conhecidas pelos publicitários em política, não se justifica mais, que continuem a ser cometidos. Que os factóides sejam factóides para valer. Que se saiba o que são e como se os deve comunicar. Para que as queimaduras de primeiro grau não se transformem em de segundo ou terceiro grau.