Manual do corrupto
CLÁUDIO MARQUES DA SILVA
A Polícia Federal está “democratizando” uso de algemas, viagens em camburões e
pernoites em celas. Em outros tempos estes “passeios” eram reservados
exclusivamente aos mais pobres. Hoje, com a globalização, todos os cidadãos já
podem ter acesso ao serviço. De fato, ladrões ricos não levam muito jeito pra
coisa. Não possuem nenhuma habilidade em ocultar algemas, esconder o rosto e
sentar no camburão. Mas nada que um bom treino não possa resolver. A “prática”
leva à perfeição. Foi pensando nesta nova classe de “detentos de luxo” que
resolvi escrever algumas regras que, se não vão solucionar todos os problemas
dos criminosos ricos nesta “nova” fase da vida, pelo menos ajudarão a enfrentar
a situação com mais, digamos, “dignidade”. Eis aqui algumas regras de ouro.
Primeiro: não fique abatido. Saiba que receber voz de prisão às seis horas da
manhã não é pra qualquer tipo de ladrão. Ladrão barato se pega em horário de
expediente ou no bar da esquina. Portanto, erga a cabeça e nada de
ressentimentos. Segundo: rotina de corrupto de luxo não pode ser igual a de
corrupto de terceira categoria. Há necessidade de manter o status. Logo, acorde
sempre antes das 6 horas. A polícia só invade após este horário. Lave o rosto,
escove os dentes, penteie os cabelos. Capriche no visual e, na hora do “teje
preso”, sorria, afinal você está na globo. Terceiro: a coisa mais ridícula para
o criminoso de luxo é exigir que os agentes exibam suas credenciais. Armas
bastam. Explico por que: se são policiais você está preso; se são do PCC você
está frito. Não pague este mico. Obedeça sempre. Quarto: nunca diga ao policial
a tradicional frase “Cê sabe com quem tá falando?”. Não funciona mais. Ele sabe
com absoluta certeza que está falando com você, um corrupto, e o ato de algemar
será executado com menos “delicadeza”. Quinto: seja educado, mantenha o estilo.
Assim, os policiais permitirão que você troque de roupa. Seja cauteloso, durma
com um pijama estilo “Pita”. Branco, com listras, nem pensar. Sexto: a policia
trabalha dia e noite. Portanto, mantenha sempre perto uma maleta de “emergência”
contendo remédios essenciais, roupas íntimas, água e material higiênico. Sétimo:
nunca humilhe seu advogado pedindo que ele carregue colchões, travesseiros e
malas de roupas. Ele é seu advogado, sua única esperança, e não um serviçal.
Oitavo: lembre-se, nunca envolva a esposa em seus negócios escusos. Ela será
muito mais útil suprindo as necessidades básicas durante as visitas do que
chorando histérica na cela ao lado. Nono: sempre invente uma suposta perseguição
por motivos “políticos” antes do evento, porque depois da prisão ninguém
acreditará em uma só palavra sua. Décimo: caso perceba que não será liberado
após os cinco dias, siga a “doutrina Maluf”, adoeça gravemente. Entre na
ambulância prostrado. Nem sequer abra os olhos. É batata. Basta aguardar o
alvará de soltura. Décimo primeiro: greve de fome ao estilo “Garotinho” nem
pensar. A população quer mesmo que você morra e, de preferência, aos poucos.
Décimo segundo: sendo liberado, contrate um batalhão de advogados para
escoltá-lo. Custará caro, mas algumas redes de TV sempre confundem as imagens e
colocam o nome do criminoso, embaixo da imagem de um dos advogados. Décimo
terceiro: nada de protestar contra as algemas. Deixe isso a cargo do Ministro do
Supremo, pois o povo se pudesse, lhe acorrentaria pelo pescoço. Pode acreditar
que até mesmo seu advogado está adorando este momento “ímpar” de sua vida. È a
chance de receber honorários em atraso. Por último, já em liberdade, nada de
comemorações. Você pode ser uma “Ingrid” para sua esposa e familiares, mas para
o resto do Brasil você não passa de um canalha, rico, mas canalha.
Cláudio Marques da Silva
Delegado de Polícia
Diretor Jurídico do Sidepol
e-mail-delegadomarques@hotmail.com
A Polícia Federal está “democratizando” uso de algemas, viagens em camburões e
pernoites em celas. Em outros tempos estes “passeios” eram reservados
exclusivamente aos mais pobres. Hoje, com a globalização, todos os cidadãos já
podem ter acesso ao serviço. De fato, ladrões ricos não levam muito jeito pra
coisa. Não possuem nenhuma habilidade em ocultar algemas, esconder o rosto e
sentar no camburão. Mas nada que um bom treino não possa resolver. A “prática”
leva à perfeição. Foi pensando nesta nova classe de “detentos de luxo” que
resolvi escrever algumas regras que, se não vão solucionar todos os problemas
dos criminosos ricos nesta “nova” fase da vida, pelo menos ajudarão a enfrentar
a situação com mais, digamos, “dignidade”. Eis aqui algumas regras de ouro.
Primeiro: não fique abatido. Saiba que receber voz de prisão às seis horas da
manhã não é pra qualquer tipo de ladrão. Ladrão barato se pega em horário de
expediente ou no bar da esquina. Portanto, erga a cabeça e nada de
ressentimentos. Segundo: rotina de corrupto de luxo não pode ser igual a de
corrupto de terceira categoria. Há necessidade de manter o status. Logo, acorde
sempre antes das 6 horas. A polícia só invade após este horário. Lave o rosto,
escove os dentes, penteie os cabelos. Capriche no visual e, na hora do “teje
preso”, sorria, afinal você está na globo. Terceiro: a coisa mais ridícula para
o criminoso de luxo é exigir que os agentes exibam suas credenciais. Armas
bastam. Explico por que: se são policiais você está preso; se são do PCC você
está frito. Não pague este mico. Obedeça sempre. Quarto: nunca diga ao policial
a tradicional frase “Cê sabe com quem tá falando?”. Não funciona mais. Ele sabe
com absoluta certeza que está falando com você, um corrupto, e o ato de algemar
será executado com menos “delicadeza”. Quinto: seja educado, mantenha o estilo.
Assim, os policiais permitirão que você troque de roupa. Seja cauteloso, durma
com um pijama estilo “Pita”. Branco, com listras, nem pensar. Sexto: a policia
trabalha dia e noite. Portanto, mantenha sempre perto uma maleta de “emergência”
contendo remédios essenciais, roupas íntimas, água e material higiênico. Sétimo:
nunca humilhe seu advogado pedindo que ele carregue colchões, travesseiros e
malas de roupas. Ele é seu advogado, sua única esperança, e não um serviçal.
Oitavo: lembre-se, nunca envolva a esposa em seus negócios escusos. Ela será
muito mais útil suprindo as necessidades básicas durante as visitas do que
chorando histérica na cela ao lado. Nono: sempre invente uma suposta perseguição
por motivos “políticos” antes do evento, porque depois da prisão ninguém
acreditará em uma só palavra sua. Décimo: caso perceba que não será liberado
após os cinco dias, siga a “doutrina Maluf”, adoeça gravemente. Entre na
ambulância prostrado. Nem sequer abra os olhos. É batata. Basta aguardar o
alvará de soltura. Décimo primeiro: greve de fome ao estilo “Garotinho” nem
pensar. A população quer mesmo que você morra e, de preferência, aos poucos.
Décimo segundo: sendo liberado, contrate um batalhão de advogados para
escoltá-lo. Custará caro, mas algumas redes de TV sempre confundem as imagens e
colocam o nome do criminoso, embaixo da imagem de um dos advogados. Décimo
terceiro: nada de protestar contra as algemas. Deixe isso a cargo do Ministro do
Supremo, pois o povo se pudesse, lhe acorrentaria pelo pescoço. Pode acreditar
que até mesmo seu advogado está adorando este momento “ímpar” de sua vida. È a
chance de receber honorários em atraso. Por último, já em liberdade, nada de
comemorações. Você pode ser uma “Ingrid” para sua esposa e familiares, mas para
o resto do Brasil você não passa de um canalha, rico, mas canalha.
Cláudio Marques da Silva
Delegado de Polícia
Diretor Jurídico do Sidepol
e-mail-delegadomarques@hotmail.com
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