Fé, religião e política
MARIA NEWNUM
Um comitê do CMI – Conselho Mundial de Igrejas -, reunindo em Genebra de 13 a 20 de fevereiro de 2008 afirmou: “Ainda que a Bíblia não descreva um sistema político de maior autoridade, indica que qualquer sistema tem potencial tanto para a participação, quanto para o abuso do poder”. *
Essa afirmação pode ser lida de várias formas. Uma delas é que a recusa das religiões em interferir em assuntos políticos, pode representar um modo velado de sustentar os abusos políticos cometidos em todo o mundo e, por conseguinte, contribuir para o impedimento de qualquer participação do povo, ou seja, das comunidades populares, onde as religiões poderiam intervir de modo positivamente transformador.
Portanto esse tema é entendido como parte da missão, entre os /as cristãos/ãs conscientes que “Reino” que Deus quer para seu povo é para hoje, e que passa pelas decisões políticas, que regem questões como moradia, saúde, educação básica, meio ambiente e refreamento da corrupção; que tira da boca dos pobres e alimenta os políticos corruptos com luxo suntuoso;
Continua o documento do CMI: “A tradição Cristã, afirma que os cristãos devem aceitar a responsabilidade de participar dos sistemas políticos civis, e também devem aceitar a responsabilidade de defender a justiça, a compaixão, a moralidade quando os que têm autoridade abusam de seu poder”*. Traduzindo em letras pequenas, quando os cristãos assim não procedem, perdem relevância, não salgam e não jogam luz na escuridão que assola o povo sofrido dos continentes. O quê se assiste, a partir daí, é o apodrecimento a céu aberto dos sistemas que deveriam garantir o frescor da vida.
A política não é ruim, ela só é deletéria quando não cumpre o papel de promotora da vida. E nesse sentido a religião também é maléfica, na medida em que não se alia a política para juntas, conceder condições para que a vida humana e o ecossistema se renovem dentro do desenho planejado pelo Criador.
A 9ª. Assembléia do CMI realizada em Porto Alegre, Brasil de 14 a 23 de fevereiro de 2006, sob o tema: “Deus em Tua graça transforma o mundo”, trouxe os eixos que continuamente devem ser lembrados pelos cristãos e ONGs mundiais. Somente a fé aliada ao poder das organizações religiosas e políticas poderá representar o “Reino de Deus”, que é para agora.
Parte-se do pressuposto, que as organizações religiosas se distinguem das organizações políticas seculares, por abrigarem menos, ou nenhuma corrupção em seus quadros; e por intervirem no sentindo de coibir todas as formas abusivas e corruptas de poder na sociedade. O Comitê do CMI destaca: “Os cristãos cumprem fielmente sua função dentro de muitos sistemas políticos diferentes e, com freqüência, são desafiados a desempenhar funções influentes no seio desses sistemas. Ao fazer isto, cumprem o chamado de ser o sal e luz,; que salga e que ilumina qualquer sistema em que participem”.*
Dito isto, é completamente incompreensível a prática, especialmente de líderes, que se alienam e afirmam que fé, religião e política são, entre si incomungáveis.
Num contexto em que os sistemas políticos mundiais são questionados sobre relevância em resolver ou ao menos amenizar o sofrimento das classes socialmente excluídas, cabe perguntar pela relevância dos cristãos e das organizações religiosas mundiais, sintetizadas nas seguintes perguntas:
Realizam ações voltadas à garantir a transparência dos processos eleitorais democráticos? Colaboram na formação, desenvolvimento e conscientização política dos/as eleitores/as? Acompanham e denunciam os abusos do poder econômico de candidatos/as e partidos políticos? Adotam postura apartidária ou cedem às barganhas e acordos escusos? Promovem ambiente de engajamento da comunidade no processo eletivo? Ou alimentam a alienação massiva do povo?
Em tempos de eleições, refletir sobre os aspectos da fé, da religião e da política é uma pauta que deve ser priorizada frente ao marcado neoliberal, promotor de desigualdades. Pois a fé é instrumento de superação das utopias; e a religião, quando comprometida, alimenta a fé. E a política? Ora, a política é o lugar onde a fé e a religião colhem (ou não) os resultados dos esforços e interferências dos humanos no mundo.
Para as religiões cristãs, o exemplo do ministério político de Jesus deve ser “re-lido” continuamente. Jesus não foi crucificado por pregar uma nova religião; nem por sua fé. Foi morto por intervir e suscitar o povo a reagir contra modelos políticos excludentes.
___
*Fonte: http://www.oikoumene.org/es/documentacion/documents/comite-central-del-cmi/ginebra-2008/informes-y-documentos/cuestiones-de-actualidad/declaracion-sobre-los-procesos-electorales-democraticos.html
Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, ex-vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá e filiada a um partido político. Leia outros artigos.
Um comitê do CMI – Conselho Mundial de Igrejas -, reunindo em Genebra de 13 a 20 de fevereiro de 2008 afirmou: “Ainda que a Bíblia não descreva um sistema político de maior autoridade, indica que qualquer sistema tem potencial tanto para a participação, quanto para o abuso do poder”. *
Essa afirmação pode ser lida de várias formas. Uma delas é que a recusa das religiões em interferir em assuntos políticos, pode representar um modo velado de sustentar os abusos políticos cometidos em todo o mundo e, por conseguinte, contribuir para o impedimento de qualquer participação do povo, ou seja, das comunidades populares, onde as religiões poderiam intervir de modo positivamente transformador.
Portanto esse tema é entendido como parte da missão, entre os /as cristãos/ãs conscientes que “Reino” que Deus quer para seu povo é para hoje, e que passa pelas decisões políticas, que regem questões como moradia, saúde, educação básica, meio ambiente e refreamento da corrupção; que tira da boca dos pobres e alimenta os políticos corruptos com luxo suntuoso;
Continua o documento do CMI: “A tradição Cristã, afirma que os cristãos devem aceitar a responsabilidade de participar dos sistemas políticos civis, e também devem aceitar a responsabilidade de defender a justiça, a compaixão, a moralidade quando os que têm autoridade abusam de seu poder”*. Traduzindo em letras pequenas, quando os cristãos assim não procedem, perdem relevância, não salgam e não jogam luz na escuridão que assola o povo sofrido dos continentes. O quê se assiste, a partir daí, é o apodrecimento a céu aberto dos sistemas que deveriam garantir o frescor da vida.
A política não é ruim, ela só é deletéria quando não cumpre o papel de promotora da vida. E nesse sentido a religião também é maléfica, na medida em que não se alia a política para juntas, conceder condições para que a vida humana e o ecossistema se renovem dentro do desenho planejado pelo Criador.
A 9ª. Assembléia do CMI realizada em Porto Alegre, Brasil de 14 a 23 de fevereiro de 2006, sob o tema: “Deus em Tua graça transforma o mundo”, trouxe os eixos que continuamente devem ser lembrados pelos cristãos e ONGs mundiais. Somente a fé aliada ao poder das organizações religiosas e políticas poderá representar o “Reino de Deus”, que é para agora.
Parte-se do pressuposto, que as organizações religiosas se distinguem das organizações políticas seculares, por abrigarem menos, ou nenhuma corrupção em seus quadros; e por intervirem no sentindo de coibir todas as formas abusivas e corruptas de poder na sociedade. O Comitê do CMI destaca: “Os cristãos cumprem fielmente sua função dentro de muitos sistemas políticos diferentes e, com freqüência, são desafiados a desempenhar funções influentes no seio desses sistemas. Ao fazer isto, cumprem o chamado de ser o sal e luz,; que salga e que ilumina qualquer sistema em que participem”.*
Dito isto, é completamente incompreensível a prática, especialmente de líderes, que se alienam e afirmam que fé, religião e política são, entre si incomungáveis.
Num contexto em que os sistemas políticos mundiais são questionados sobre relevância em resolver ou ao menos amenizar o sofrimento das classes socialmente excluídas, cabe perguntar pela relevância dos cristãos e das organizações religiosas mundiais, sintetizadas nas seguintes perguntas:
Realizam ações voltadas à garantir a transparência dos processos eleitorais democráticos? Colaboram na formação, desenvolvimento e conscientização política dos/as eleitores/as? Acompanham e denunciam os abusos do poder econômico de candidatos/as e partidos políticos? Adotam postura apartidária ou cedem às barganhas e acordos escusos? Promovem ambiente de engajamento da comunidade no processo eletivo? Ou alimentam a alienação massiva do povo?
Em tempos de eleições, refletir sobre os aspectos da fé, da religião e da política é uma pauta que deve ser priorizada frente ao marcado neoliberal, promotor de desigualdades. Pois a fé é instrumento de superação das utopias; e a religião, quando comprometida, alimenta a fé. E a política? Ora, a política é o lugar onde a fé e a religião colhem (ou não) os resultados dos esforços e interferências dos humanos no mundo.
Para as religiões cristãs, o exemplo do ministério político de Jesus deve ser “re-lido” continuamente. Jesus não foi crucificado por pregar uma nova religião; nem por sua fé. Foi morto por intervir e suscitar o povo a reagir contra modelos políticos excludentes.
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*Fonte: http://www.oikoumene.org/es/documentacion/documents/comite-central-del-cmi/ginebra-2008/informes-y-documentos/cuestiones-de-actualidad/declaracion-sobre-los-procesos-electorales-democraticos.html
Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, ex-vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá e filiada a um partido político. Leia outros artigos.
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