Mulheres e espaço de poder na sociedade e no ecumenismo brasileiro
MARIA NEWNUM
Como ocorrem nas várias instâncias eclesiásticas, as mulheres são acolhidas com gentileza no meio ecumênico. Poucas mulheres pentecostais, católicas, protestantes e as ligadas aos organismos ecumênicos denunciariam sexismo ou discriminação de gênero nos espaços que transitam.
Quase não há como denunciar. Especialmente nas últimas décadas, as mulheres receberam o “crédito” que merecem, frente ao funcionamento diário de suas Igrejas, grupos societários e ecumênicos. Elas “são pau para toda obra”: varem o chão, limpam banheiros, põem flores no altar e organizam liturgias belíssimas. Por inúmeras vezes, as ações tecidas pelas mãos das mulheres superam o espaço cúltico e atingem projetos ambiciosos que envolvem direitos humanos, alimentação e saúde familiar, violência social, cuidados com o meio ambiente e responsabilidade política.
De modo muito particular, as mulheres têm sido desafiadas, inclusive por homens, a perceber que o voto no meio secular precisa da intervenção feminina, pois, suas escolhas políticas vão interferir diretamente no “universo estrito” das mulheres, ou seja, no cuidado dos filhos e parentes dependentes de seus cuidados. Cada vez mais, as mulheres adquirem “ciência” que é imprescindível ter nos quadros diretivos, mulheres e homens competentes e comprometidos com causas amplas, tanto no âmbito da política secular, como eclesiástica.
Obviamente, por trás dessas conquistas há um esforço de mulheres articuladoras e fomentadoras dos movimentos sociais e ecumênicos brasileiros e de muita gentileza fraterna por parte de alguns homens comprometidos com a eqüidade de gênero.
Apesar disso, elas ainda ocupam o escalão de “segunda classe” nos espaços de decisão da sociedade. Se forem negras, indígenas e com baixa formação educacional, o quadro se agrava enormemente. Uma prova que evidencia a discriminação de gênero é que mesmo as mulheres brancas e com excelente formação educacional e profissional não conseguem atingir as posições diretivas nas empresas. Segundo dados da Secretária Especial de Políticas para as Mulheres: “Independentemente da maior escolaridade das mulheres, a inserção delas em ‘nichos’ ocupacionais tipicamente femininos faz com que elas ganhem menos que os homens (...) ”.[1]
Já nos cargos de chefia, dados do Instituto Catho demonstra que o índice não atinge 21% do mercado. “O índice chegou a 20,56% contra os 10,39% registrados há 11 anos, em 1997.[2]” Ou seja, houve aumento significativo em 11 anos, mas o índice é baixo quando se constata a presença massiva de das mulheres no mercado de trabalho e nos cursos de qualificação profissional. Os cursos de MBA têm a média de 32% de participação feminina em suas turmas. O índice é alto quando se leva em conta os sacrifícios pessoais que elas fazem para se inscreverem nesses cursos.
Mas a pergunta que não quer calar é: Que posição ocupa as mulheres nos espaços de decisões do ecumenismo brasileiro? O movimento ecumênico defensor da eqüidade de gênero tem, na prática, empoderado as mulheres?
Antes de responder, visite o site das principais organizações ecumênicas brasileiras e procure por elas nas juntas diretivas, nas secretárias executivas e nos cargos de presidência.
Adianto: a surpresa não é das melhores.
Somente uma avaliação precisa e reflexões pontuais sobre o assunto, poderão, quem sabe em 10 anos, reverter o quadro atual.
Para as mulheres ecumênicas brasileiras fica o desafio de responder a pergunta: Que papel, nós mulheres temos desempenhado no movimento ecumênico brasileiro? O papel de “segunda classe” talvez seja apenas uma resposta simples; há outras ainda mais preocupantes.
Ivone Gebara, em seu livro, Poder e não poder das mulheres nos ajuda a entender nossa situação de mulheres latino-americanas. Fica o convite a essa leitura.
___________
Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, ex-vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá e filiada a um partido político. Para comentar ou ler outros artigos acesse aqui.
Como ocorrem nas várias instâncias eclesiásticas, as mulheres são acolhidas com gentileza no meio ecumênico. Poucas mulheres pentecostais, católicas, protestantes e as ligadas aos organismos ecumênicos denunciariam sexismo ou discriminação de gênero nos espaços que transitam.
Quase não há como denunciar. Especialmente nas últimas décadas, as mulheres receberam o “crédito” que merecem, frente ao funcionamento diário de suas Igrejas, grupos societários e ecumênicos. Elas “são pau para toda obra”: varem o chão, limpam banheiros, põem flores no altar e organizam liturgias belíssimas. Por inúmeras vezes, as ações tecidas pelas mãos das mulheres superam o espaço cúltico e atingem projetos ambiciosos que envolvem direitos humanos, alimentação e saúde familiar, violência social, cuidados com o meio ambiente e responsabilidade política.
De modo muito particular, as mulheres têm sido desafiadas, inclusive por homens, a perceber que o voto no meio secular precisa da intervenção feminina, pois, suas escolhas políticas vão interferir diretamente no “universo estrito” das mulheres, ou seja, no cuidado dos filhos e parentes dependentes de seus cuidados. Cada vez mais, as mulheres adquirem “ciência” que é imprescindível ter nos quadros diretivos, mulheres e homens competentes e comprometidos com causas amplas, tanto no âmbito da política secular, como eclesiástica.
Obviamente, por trás dessas conquistas há um esforço de mulheres articuladoras e fomentadoras dos movimentos sociais e ecumênicos brasileiros e de muita gentileza fraterna por parte de alguns homens comprometidos com a eqüidade de gênero.
Apesar disso, elas ainda ocupam o escalão de “segunda classe” nos espaços de decisão da sociedade. Se forem negras, indígenas e com baixa formação educacional, o quadro se agrava enormemente. Uma prova que evidencia a discriminação de gênero é que mesmo as mulheres brancas e com excelente formação educacional e profissional não conseguem atingir as posições diretivas nas empresas. Segundo dados da Secretária Especial de Políticas para as Mulheres: “Independentemente da maior escolaridade das mulheres, a inserção delas em ‘nichos’ ocupacionais tipicamente femininos faz com que elas ganhem menos que os homens (...) ”.[1]
Já nos cargos de chefia, dados do Instituto Catho demonstra que o índice não atinge 21% do mercado. “O índice chegou a 20,56% contra os 10,39% registrados há 11 anos, em 1997.[2]” Ou seja, houve aumento significativo em 11 anos, mas o índice é baixo quando se constata a presença massiva de das mulheres no mercado de trabalho e nos cursos de qualificação profissional. Os cursos de MBA têm a média de 32% de participação feminina em suas turmas. O índice é alto quando se leva em conta os sacrifícios pessoais que elas fazem para se inscreverem nesses cursos.
Mas a pergunta que não quer calar é: Que posição ocupa as mulheres nos espaços de decisões do ecumenismo brasileiro? O movimento ecumênico defensor da eqüidade de gênero tem, na prática, empoderado as mulheres?
Antes de responder, visite o site das principais organizações ecumênicas brasileiras e procure por elas nas juntas diretivas, nas secretárias executivas e nos cargos de presidência.
Adianto: a surpresa não é das melhores.
Somente uma avaliação precisa e reflexões pontuais sobre o assunto, poderão, quem sabe em 10 anos, reverter o quadro atual.
Para as mulheres ecumênicas brasileiras fica o desafio de responder a pergunta: Que papel, nós mulheres temos desempenhado no movimento ecumênico brasileiro? O papel de “segunda classe” talvez seja apenas uma resposta simples; há outras ainda mais preocupantes.
Ivone Gebara, em seu livro, Poder e não poder das mulheres nos ajuda a entender nossa situação de mulheres latino-americanas. Fica o convite a essa leitura.
___________
Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, ex-vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá e filiada a um partido político. Para comentar ou ler outros artigos acesse aqui.
<< Home