A exuberância da beleza triste
De denso manto de folhas e flores te vestes; de diferentes tons de verde te enfeitas. Únicos e belos são os coloridos apliques que te adornam, qual noiva insólita. Mesmo, que em teu majestoso traje dispenses do homem a sempre desconfiável presença - pois sabes bem te vestires - recebes a contra gosto, sua ajuda nefasta que magoa tanto. Basta que olhe quem queira, e verá os sinais, os monturos. Que ausência de civilidade esbanja, quem nas fáceis contestações verbais ao vizinho cobra, como se, também, suas não fossem as obrigações. Feito fariseus, que vociferam devoções buscando salvação sem obra; hábito funesto do comodismo cínico, de quem coloca os olhos sob a mão. Tu com razão e majestade, indiferente aos rasteiros sentimentos de quem se desmancha em elogios, dás vazão à tua vaidade; é próprio da fêmea que se compraz com seus encantos orgulhosa. Entretanto, finges muito bem a teus bajuladores gratificar. E em teus transparentes espelhos d´água, teus vendilhões explícitos se ocultam entre tuas esquinas, a admirar tua bela imagem refletida. Mentem, por polpuda renda a te cortejar, travestidos de guerreiros a te proteger, porém, não passam de gigolôs ordinários a te explorar. Mas como poderiam eles entender de tão delicados mistérios se, apenas, em toda sua vida têm por referência de encanto os cemitérios? Oh, Maringá, que bela aos meus olhos pareces; não obstante a aridez de quem te explora a sombra; de quem te tem à mão, mas não merece. Teu chão falso de pedra e piche, não te afronta tanto quanto os pés que te pisam a desdenhar. Te poupando reconhecimento à firmeza que a eles emprestas, te fazem versos de louvor da boca para fora; basta olhar ao redor; quanta sujeira a ti sufocar. Quando, porém, tua beleza se esvair, e a sanha dos teus algozes arrefecer, exaurida e velha em teu desgastado brilho, hão de abandonar-te em “asilo” fétido. Não sem antes tentarem cobrar alto preço pelo “ honorífico bem” que ti fizeram. No entanto, não será teu fim; hão de vê-la exuberante ressurgir. O consolo, é que já não te magoarão os mesmos que não te honram, nem mesmo por gratidão. Já que por ignorância buscam de todas as formas apagar da tua beleza o fulgor. Negociando santuários alhures, infelizmente, hão de estar infelicitando almas sensíveis como tu. Há, no entanto, quem te ame; quem te reconheça bela e generosa; providencialmente, és paciente. Hás de ter noticia de forasteiros que em teu seio gentil hão de se aninhar; agradecidos com a tua doce acolhida somar-se-ão àqueles que te amam com ardor, que não trombeteiam para serem notados, mas com simplicidade a reconhecer quão imenso é teu coração. Há de vir alguém, que ao te amar por inteiro te protegerá e te fará justiça, dando a teu destino o Norte que até então ninguém foi capaz de dar. Vestindo-te, ainda, com maior beleza, tornar-te-á eterna, te dando a honra de condenar ao desterro, a quem por lucro passa a vida a te oferecer; a quem sem escrúpulos te usa fingindo amor; porém, em vis negociatas a te vender.
Frambell Carvalho
Frambell Carvalho
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