A caça ao poder tem limite
AUGUSTO NUNES
Há limite para tudo, lembrou o deputado Fernando Gabeira, em outubro de 2003, aos jornalistas que aguardavam no saguão do Palácio do Planalto o fim da conversa que não houve. Estava lá desde às 11 da manhã a convite do chefe da Casa Civil, José Dirceu, que pretendia convencê-lo a ficar no PT. Gabeira queria só avisar que, como os desvios do partido haviam passado do limite, seria um ex-petista na manhã seguinte. Uma hora depois, o anfitrião nem dera sinal de vida. Deselegância também tem limite. Sem esperar por Dirceu, Gabeira despediu-se da secretária, da sala e do PT. Tudo tem limite. Não há limite para nada, berra o comportamento da imensa maioria dos políticos brasileiros, sob o silêncio cúmplice dos rebanhos. A honra, a ética, a moral, a compostura, a coerência tudo velharia, coisa de otário. “Não se faz política sem meter a mão na merda”, ensina a Teoria de Paulo Betti. “Só é feio perder a eleição”, vive avisando o ministro Tarso Genro. Sobretudo quando está em disputa a prefeitura do Rio, confirma o esforço espantoso do ex-deputado Eduardo Paes para conseguir o perdão e, se Deus ajudar, o apoio explícito do presidente Lula. Nada mais é vergonhoso. Só a derrota. Há cinco anos, o agora candidato a prefeito do PV achou humilhante demais continuar à espera do ministro descortês. Neste outubro, o candidato do PMDB não acha sequer constrangedora a rendição incondicional a quem acusou de chefiar a quadrilha do mensalão. “Exagerei no tom”, desculpou-se de novo, na quinta-feira. Não foi o volume da voz, muito menos o timbre, que incluiu o então deputado do PSDB na lista dos desafetos do presidente (e da família Lula da Silva). Foi o que disse no Congresso o relator-adjunto da CPI dos Correios. Foi o que confirmou, em sucessivas entrevistas, o parlamentar que se tornara tucano depois de reeleito pelo PFL. “O conjunto de escândalos que envolvem o governo é tanto, e a desfaçatez dos principais atores envolvidos neles tão grande, que às vezes parece que a CPI não conseguiu ainda provar muita coisa”, disse em agosto de 2006. “Comprovamos o mensalão com cópia de recibo e tudo. Como é que o Lula ainda tem coragem de negar?”. Depois de colocar sob suspeição negócios bastante lucrativos feitos pelo Primeiro-Filho, o entrevistado voltou ao alvo preferencial: “Liderados por Lula, alguns políticos têm feito um esforço enorme para transformar tudo numa grande pizza”. Paes admitiu que o chefe de governo tenha ignorado detalhes do escândalo, “mas é claro que tinha clareza do papel do `nosso Delúbio’ em todo o processo”, ironizou o tratamento carinhoso dispensado por Lula ao corrupto de estimação Delúbio Soares. “Uma figura tão próxima ao presidente não teria agido com tanta liberdade sem o seu aval”. Quem fez as pazes com Fernando Collor, Renan Calheiros ou Paulo Maluf não é homem de guardar ressentimentos. Mas Lula nunca perde a chance de chutar quem pede perdão de joelhos. Foi o que fez com o candidato a ministro Mangabeira Unger. É o que agora faz com o candidato a prefeito do PMDB. O que terá escrito na carta ao presidente, que jura não ter enviado, mas diz que será tratada como assunto particular caso chegue a Lula? O Brasil quer saber, por exemplo, se o candidato Paes acha que o mensalão aconteceu ou só existiu na imaginação do deputado Paes.
Há limite para tudo, lembrou o deputado Fernando Gabeira, em outubro de 2003, aos jornalistas que aguardavam no saguão do Palácio do Planalto o fim da conversa que não houve. Estava lá desde às 11 da manhã a convite do chefe da Casa Civil, José Dirceu, que pretendia convencê-lo a ficar no PT. Gabeira queria só avisar que, como os desvios do partido haviam passado do limite, seria um ex-petista na manhã seguinte. Uma hora depois, o anfitrião nem dera sinal de vida. Deselegância também tem limite. Sem esperar por Dirceu, Gabeira despediu-se da secretária, da sala e do PT. Tudo tem limite. Não há limite para nada, berra o comportamento da imensa maioria dos políticos brasileiros, sob o silêncio cúmplice dos rebanhos. A honra, a ética, a moral, a compostura, a coerência tudo velharia, coisa de otário. “Não se faz política sem meter a mão na merda”, ensina a Teoria de Paulo Betti. “Só é feio perder a eleição”, vive avisando o ministro Tarso Genro. Sobretudo quando está em disputa a prefeitura do Rio, confirma o esforço espantoso do ex-deputado Eduardo Paes para conseguir o perdão e, se Deus ajudar, o apoio explícito do presidente Lula. Nada mais é vergonhoso. Só a derrota. Há cinco anos, o agora candidato a prefeito do PV achou humilhante demais continuar à espera do ministro descortês. Neste outubro, o candidato do PMDB não acha sequer constrangedora a rendição incondicional a quem acusou de chefiar a quadrilha do mensalão. “Exagerei no tom”, desculpou-se de novo, na quinta-feira. Não foi o volume da voz, muito menos o timbre, que incluiu o então deputado do PSDB na lista dos desafetos do presidente (e da família Lula da Silva). Foi o que disse no Congresso o relator-adjunto da CPI dos Correios. Foi o que confirmou, em sucessivas entrevistas, o parlamentar que se tornara tucano depois de reeleito pelo PFL. “O conjunto de escândalos que envolvem o governo é tanto, e a desfaçatez dos principais atores envolvidos neles tão grande, que às vezes parece que a CPI não conseguiu ainda provar muita coisa”, disse em agosto de 2006. “Comprovamos o mensalão com cópia de recibo e tudo. Como é que o Lula ainda tem coragem de negar?”. Depois de colocar sob suspeição negócios bastante lucrativos feitos pelo Primeiro-Filho, o entrevistado voltou ao alvo preferencial: “Liderados por Lula, alguns políticos têm feito um esforço enorme para transformar tudo numa grande pizza”. Paes admitiu que o chefe de governo tenha ignorado detalhes do escândalo, “mas é claro que tinha clareza do papel do `nosso Delúbio’ em todo o processo”, ironizou o tratamento carinhoso dispensado por Lula ao corrupto de estimação Delúbio Soares. “Uma figura tão próxima ao presidente não teria agido com tanta liberdade sem o seu aval”. Quem fez as pazes com Fernando Collor, Renan Calheiros ou Paulo Maluf não é homem de guardar ressentimentos. Mas Lula nunca perde a chance de chutar quem pede perdão de joelhos. Foi o que fez com o candidato a ministro Mangabeira Unger. É o que agora faz com o candidato a prefeito do PMDB. O que terá escrito na carta ao presidente, que jura não ter enviado, mas diz que será tratada como assunto particular caso chegue a Lula? O Brasil quer saber, por exemplo, se o candidato Paes acha que o mensalão aconteceu ou só existiu na imaginação do deputado Paes.
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