2.10.08

Comemoração à árvore e seus significados à qualidade de vida e ao combate às mudanças do clima II

OSMAR PIRES MARTINS JUNIOR

As comemorações de eventos, como o dia da árvore, ilustram o avanço da consciência ambiental por parte dos cidadãos. Apesar disso, verifica-se a tendência de redução das áreas verdes urbanas disponíveis por habitante, isto é, do Índice de Área Verde (IAV). Na França, apenas 4 das 24 cidades com mais de cem mil habitantes dispõem de mais de 5 m²/hab. de espaço aberto público; 11 dispõem de 2 a 5 m² e 9 cidades, de menos de 2 m².

No Brasil, o IAV da cidade de Curitiba é de 50,15 m²/hab., sendo que a vegetação de áreas particulares joga um papel fundamental, graças a uma inteligente política de incentivo fiscal, que proporciona abatimento no imposto territorial urbano proporcionalmente à área do terreno que é mantida com cobertura vegetal pelo proprietário, podendo chegar a até 100% de isenção. Em Vitória (ES), o IAV é de 82,70 m²/hab., proporcionado em grande parte pelas Unidades de Conservação criadas nas encostas da Serra do Mar, que preserva importantes resquícios da formação vegetal da “Mata Atlântica”. Em Maringá (PR), o IAV é de 20,62 m²/hab., onde se destaca a categoria do verde de acompanhamento viário, com um exuberante programa de arborização de ruas e praças.

O IAV de Goiânia, em 2001, era de 100,25 m²/hab e, em 2008, de 94 m²/hab. Esta riqueza está submetida a permanente ameaça, pois o Índice de Dilapidação do Patrimônio Público é de 3,65% ao ano. Com isso, caso estas ameaças, representadas pela urbanização descontrolada não sejam contidas, o IAV de Goiânia poderá ser reduzido a 45 m²/hab em 15 anos.

A urbanização sem controle, ao desnudar e impermeabilizar o solo, causa uma série de impactos sobre a qualidade de vida dos cidadãos. As cidades apresentam várias alterações climáticas em relação ao entorno não urbanizado. A temperatura média anual é de 0,5 - 1,5 graus Celsius mais alta nas cidades; a umidade relativa é menor tanto no inverno (2%) como no verão (8-10%); as precipitações são, em média, 5-10% maiores; a média de vento é 10-30% de menor ocorrência; a poluição gasosa é 5-25% maior, com 10 vezes mais partículas sólidas em suspensão na atmosfera urbana do que na zona rural. Em Goiânia, constata-se uma ilha de calor no centro da cidade, com temperaturas internas maiores do que na periferia. A ilha de calor é um fenômeno associado às ações antrópicas sobre o ambiente urbano, por meio do uso do solo, bem como aos condicionantes do meio físico e seus atributos geoecológicos.
A parte da energia solar que incide sobre um corpo não luminoso e que é devolvida para a atmosfera, por reflexão difusa, é chamada de albedo ou refletividade. Pesquisas realizadas em cidades com típico clima tropical, como em Rondonópolis, no Mato Groso, comprovaram que o desmatamento e a impermeabilização do solo, sobretudo na área adensada central, causam uma brusca redução na capacidade de armazenamento dágua pelo solo urbano. A intensa radiação solar reinante nos trópicos determina condições de evaporação da água armazenada no solo urbano em pouco tempo (questão de horas) que, aliado ao rápido aquecimento, causa diminuição do consumo de calor latente (energia gasta na vaporização dágua). E, pelo fato de existir pouca vegetação, toda energia absorvida pela superfície impermeável junto à interface solo/atmosfera, transforma-se em calor sensível, aumentando a temperatura intra-urbana e o desconforto ambiental.
A arborização urbana contribui para a preservação e melhoria da qualidade ambiental das cidades através da função fisiológica, relacionada a melhoria das condições do solo, regularização do ciclo hidrológico, moderação dos extremos climáticos, sobrevivência da fauna e redução dos níveis de poluição atmosférica., bem como da função psicológica, exercida na quebra da monotonia das cidades, na mudança do horizonte e na manifestação de um ritmo natural, com cores relaxantes, possibilitando a renovação espiritual. O conforto que envolve as respostas aos sentidos de audição, visão, olfato, paladar, tato, equilíbrio, calor e frio, estão relacionados a estímulos do ambiente e associados à cobertura vegetal do solo urbano. A sensação de conforto ou desconforto representa a integração de respostas dos nossos sentidos a estes estímulos e decorre da vegetação que, quando adequadamente presente, atenua os estímulos intensos e dominantes de propagação e percepção do calor ou do frio, dos sons e da luz, portanto, dos confortos térmicos, acústicos e lumínicos.

Osmar Pires Martins Júnior é professor de cursos de graduação e de pós-graduação de IES, presidente da Academia Goianiense de Letras