29.10.08

A Rodoviária

Não pude me conter diante da discussão acerca da preservação ou não da antiga Rodoviária. Esta que resiste impávida à negligência do poder público e da sociedade local, entregue ao tempo intencionalmente para que seja consumida pela especulação imobiliária de Maringá. Esta última, a especulação, que rende muito dinheiro aos interessados na sua demolição e defendem essa posição na mídia local.
A cidade contemporânea é a cidade da mídia, da TV Globo, dos comerciais, do consumo descabido, dos interesses internacionais. Tudo que é relativo à identidade de um povo, à sua cultura, ao senso crítico coletivo e sentido de pertencimento ao lugar torna-se obsoleto, justamente porque não interessa ao sistema político e econômico vigente. Pensem nisso! É a chamada “ideologia do moderno”.
Não se prendam à imagem dessa Rodoviária tal como é hoje, sem uso, abandonada, prestes a virar mais um fantástico shopping... Ao olhos menos atentos e críticos, parece uma boa troca! Mas àqueles que estudam ou viveram o passado, não. A Rodoviária de Maringá tem uma importância histórica no processo de desenvolvimento urbano da cidade. Já foi a construção mais moderna e representativa da região, não é apenas um edifício velho. Ela tem seu valor, é um símbolo, tanto que hoje ainda questionam a sua demolição. Entendam que a bela cidade de Maringá tem pouca arquitetura passível de preservação, pois é uma cidade jovem, “moderna”, e de uma arquitetura pouco expressiva em geral. Mas sua beleza está justamente no conjunto urbanístico e paisagístico da cidade. Diferente de Curitiba, Ouro Preto ou Brasília, cada cidade deve reconhecer e valorizar seu patrimônio.
No final do séc. XVIII, a Torre Eiffel era um símbolo da feiúra de Paris, criticada por muitos intelectuais que pediram sua demolição. Porém hoje é um símbolo da Cidade-Luz conhecido mundialmente. Durante o Brasil colônia, a chamada arquitetura vernacular colonial era considerada feia, pobre, coisa de América Latina. Os barões costumavam pintar paisagens européias nas paredes internas das grandes casas de fazenda, pois tinham vergonha da natureza brasileira, sua fauna e flora... Olhem só como a beleza é relativa no tempo e espaço!!!

Aliás, o que é uma arquitetura bela hoje em dia? Um shopping? Um belo edifício de vidro espelhado igual aos de São Paulo e Nova York?

Meus caros, a arquitetura brasileira está perdida nesse mundo contemporâneo e de multinacionais, os fornecedores de materiais e construtoras hoje têm muito mais força e influência do que imaginam. Já não formam arquitetos como Niemeyer, Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha ou Lucio Costa... Arquitetura hoje é decoração!!! Tem arquiteto “doando” projeto para cliente, prá depois ganhar em comissão de fornecedor e da construtora; e o cliente nem sonha com nada disso. Paga muito mais caro e é obrigado a usar os “novos” materiais do mercado... O barato sempre sai sempre mais caro na cosntrução civil!
Acho imprescindível a preservação da Rodoviária, transformem-na em um marco arquitetônico, num espaço com belas praças e manifestações culturais... A cidade de vocês ficará ainda mais bonita, e a população ainda mais feliz... (não sei se alguns interessados concordam com isso!), e minhas férias de fim-de-ano em Maringá ainda mais agradáveis.
Abraços ao maringaenses, e cuidem da sua história!

Prof. Geovany Jessé A. Silva - Arquiteto e Urbanista – FAU-UnB