2.11.08

Corrupção não

Se você ainda acha que dá tempo de mudar essa fama de país corrupto que o Brasil tem, chegou à página certa! Vamos derrotar o monstro que rouba o dinheiro do povo

Ana Paula Corradini
Especial para o Correio Braziliense
Paulo de Araújo/CB/D.A Press


Todo mundo está careca de saber que algumas pessoas adoram levar vantagem: tem gente que faz de tudo para furar um lugar na fila, que dá o troco errado, que cola do amigo na prova... O problema é que, apesar de muita gente achar essas atitudes quase normais, o pessoal vai acostumando com essas pequenas falhas quando ainda é criança e vai virando corrupto desde pequenininho.

Aí já viu: vira um corruptão com conseqüências muito mais graves quando é adulto. É gente que não declara imposto, patrão que não registra funcionário, político que desvia a grana que vem do nosso bolso e deveria ir para um monte de obras superimportantes para garantir comida, saúde, casa e trabalho pro país inteiro... Acontece que muita gente também já joga a toalha: diz que no Brasil é assim mesmo e que não tem mais solução! Mas não precisa ser assim! Veja como ainda dá para dar um jeito!

FIQUE LIGADO
Se sua escola deseja participar da campanha, ligue para Ouvidoria do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios: 3343-9800


Crianças contra a corrupção

Esta semana, 1.300 alunos de ensino médio e fundamental das escolas públicas e particulares do Distrito Federal participaram de um evento que reuniu gente de várias instituições de Brasília para discutir como é que a gente faz para dar um jeito na corrupção. Foi na quarta-feira à tarde, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. E sabe quem é a grande esperança dos adultos para acabar com essa palhaçada toda? As crianças! Que responsa, hein?

Como não é uma tarefa nada fácil, várias instituições do DF, como o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, o Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios, e o Tribunal de Contas prepararam a campanha “O que você tem a ver com a corrupção?”, que tem até uma cartilha e um desenho com personagens que ensinam como as crianças também podem fazer a diferença. Esta semana, foram enviados livros, cartilhas e vídeos para as 620 escolas públicas do DF. Escolas particulares também estão aderindo ao movimento.

Essa campanha foi criada lá em Santa Catarina exatamente para as crianças e suas famílias também perceberem o que pode ser feito no dia-a-dia contra a corrupção. Afinal, não adianta fazer planos grandiosos e querer mudar tudo de uma vez nem só ficar falando mal de político até a orelha do cara ficar vermelha. Todo mundo pode começar com pequenos gestos, um pouquinho por dia, e quem sabe essa onda não cresce e se espalha pelo Brasil inteiro?

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Corru... o quê?

Essa palavra é meio esquisita, mas a garotada está bem ligada no movimento e sabe muito bem o que é. A palavra “corrupção” veio do latim corruptus, que significa apodrecido, pútrido. Ou seja, algo que cheira muito, mas muito mal. Bleargh! O corrupto é um sujeito que quer se dar bem o tempo todo, custe o que custar.

— É quando alguém corrompe alguma coisa, quando faz algo que não está de acordo com a lei. É muito feio, define Pedro Mattar, 11 anos, aluno do 5º ano do Colégio Logosófico.

Já para Thiago Veras Machado, 10, do 5º ano do mesmo colégio:

— Corrupção é tipo um suborno, como pagar para um funcionário adiantar algum trabalho para você.

Ou seja, é coisa feia mesmo. Mas todo mundo sabe o que é.


Sem vantagem para ninguém

Você sabia que com toda a grana desviada pelos corruptos do Brasil o país perde R$ 3 bilhões por ano? Parte desse dinheiro é mandado por baixo dos panos para contas em bancos de outros países e nunca mais voltará ao Brasil. E aí um monte de coisas superimportantes para a população, como habitação, saúde, saneamento básico, educação e até a proteção do meio ambiente vão por água abaixo.

— É ruim para todo mundo. O Brasil vai ter uma fama ruim e eu não quero que ele tenha essa fama, reclama Isabela Marinho, de 10 anos, também do 5º ano do Colégio Logosófico.

Como os corruptos vão guardando sua parte dessa grana que deveria ser revertida para todos nós, é claro que vão ficando cada vez mais milionários — e a população pobre do Brasil, cada vez mais sem recursos.

—Eu acho que a corrupção é uma das causas da má distribuição de renda do país. Os ricos ficam mais ricos e os pobres ficam mais pobres, explicou Pedro Mattar.

— A pessoa já é muito rica e quer ficar ainda mais rica, completa Luís Eduardo Silva Costa Carvalho, 10 anos, do mesmo colégio.
Tem luz no fim desse túnel?

E toda essa confusão que vem rolando há tanto tempo tem jeito? Segundo o cientista político e professor Robson Pereira, da Universidade de Brasília e da organização não-governamental Cristãos contra a Corrupção (Criscor) para acabar com essa praga a gente precisa criar um ambiente propício. Ou seja: todo mundo tem que estar bem disposto para a tarefa. Assim, se a gente é criado desde pequenininho acreditando que o melhor é levar vantagem dos outros mesmo, e “antes eles do que eu”, não vai conseguir achar nada de errado nessa situação nem soluções reais. Por isso é que as famílias e os professores, responsáveis pela educação da molecada, têm que ser os primeiros a se conscientizar. Para isso, os professores também têm que receber uma supercapacitação e um salário decente.

— Além disso, o governo deve diminuir os impostos, a sociedade deve se mobilizar e deve haver um forte controle sobre os políticos, explica o professor Robson. E essa conscientização tem que começar desde cedo mesmo.

— Se uma pessoa colar na prova, por exemplo, ela vai tirar nota alta, mas não vai aprender. Então ela está sendo desonesta com ela mesma e já começa um tipo de corrupção, respondeu Isabella Rocha, de 11 anos, aluna do 5º ano.

—No futuro, quando os filhos perguntarem alguma coisa para ela, ela não vai saber responder e vai ficar envergonhada, completa Isabela Marinho, de 10 anos.


Editor: Ana Sá // Anasa.df@diariosassociados.com.br
Correio Braziliense Super 01/10/08