23.11.08

Estão mangando de nós mais uma vez e merecemos

MARIA NEWNUM

O vereador João Alves Correa (PMDB) venceu recurso contra sentença da Justiça Eleitoral de Maringá e do Paraná em Brasília. Em decisão do ministro Joaquim Barbosa obteve direito ao reconhecimento dos votos, que como não se pode provar o contrário, são lícitos.
Apesar dos vários processos por improbidade administrativa e superfaturamento na compra de computadores, o vereador só corre um risco: o de ser pela sétima vez, presidente da casa.
Incrivelmente, as reações contrárias a essa situação foram poucas. No blog do jornalista Angelo Rigon há algumas:
- “Somos a segunda cidade da vergonha, a 1 é Londrina...
Cadê as igrejas? Os movimentos sociais organizados? O que nos impede de lavar as calçadas dessa Câmara? De usarmos lenços de luto?”; - “Deixo aqui uma dica para todas as pessoas de bem: vamos nos organizar e fazer um protesto lá no cartório eleitoral, e devolvermos nossos títulos de eleitor. Fazendo isso talvez alguém perceba que a coisa não é brincadeira, pois estão brincando com as pessoas sérias desta cidade, e isto precisa mudar”; - “A verdade agora eu vi, o crime compensa”; - “Mais uma vez a bandidagem venceu, parabéns John” –

Preocupam as poucas reações que surgem nesse caso, a maioria de gente que tem medo de assinar o nome e a total ausência dos movimentos organizados e de grupos religiosos.
Mais uma vez, vamos conviver com o triunfo da injustiça ou com a “justiça equivocada”, ou seja, amparada pela Lei. A questão é que a ausência de reações da população atesta que, socialmente estamos dizendo que somos, enquanto cidadão/ãs, irrelevantes ao processo decisório, seja porque não nos sentimos parte desse processo, seja porque não garantimos nosso espaço, através das reações comunitárias de repúdio as decisões judiciais equivocadas.
Tal como ocorreu com Antonio Belinatti (PP) em Londrina, João Alves certamente tinha na ponta da língua a fala dos políticos corruptos de nosso país: “Isso não vai dar em nada!”.
Por muito tempo, veremos as caras rosadas, rechonchudas e risonhas de políticos de nosso Brasil mangando de nós. Nós munícipes, juízes, líderes de comunidades, OAB, igrejas, partidos políticos, organização de mulheres, rotarys, Lion’s e estudantes somos consecutivamente motivos de chacota.
Outrora, ainda víamos os estudantes com “caras pintadas” de verde e amarelo; cores de nossa Pátria. Agora só nos pintamos de amarelo. Amarelamos cada dia mais, por medo ou por apatia... Viramos caso de risos. Risos patéticos, risos de descaso pela confiança certa em nossa amorfa condição de insignificantes.
Somos insignificantes, na medida em que, não fazemos nada para denunciar, nem para e reescrevermos a História que é nossa e da qual deveríamos ser agentes de mudança e transformação.
Brasil a fora seguem mangando de nós e até se prove o contrário, nós merecemos.
Maringá é o retrato fiel do Brasil: Não falamos, não vemos, não ouvimos.

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Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática e ex -vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá.