7.11.08

Martin Luther King, Barack Obama e protecionismo

Paiva Netto

“Eu tenho um sonho de que um dia meus quatro filhos vivam em uma nação onde não sejam julgados pela cor de sua pele, mas pelo seu caráter.” Ao proferir esse discurso, em 28 de agosto de 1963, nos degraus do Lincoln Memorial, como ápice da Marcha de Washington, numa manifestação que reuniu aproximadamente 200 mil pessoas em defesa dos direitos civis para os negros, o pastor, ativista político e líder pacifista Martin Luther King Jr. (1929-1968) não imaginava que, quarenta anos após sua morte, os Estados Unidos da América estariam elegendo o primeiro presidente afro-americano da história de seu país. Não estou aqui para discutir política. Contudo, esse fato notável, embora não represente o fim do racismo nas terras do Tio Sam, constitui avanço dos mais significativos para bani-lo das consciências, não só norte-americanas, mas de todos os povos. A eleição de Barack Obama surtirá os mais diferentes efeitos na existência das nações. Peço a Deus que o ampare e nos livre do protecionismo deles.

“O mundo irá misturar-se como um oceano”

Em “Crônicas e Entrevistas” (2000), comentei que, durante uma fase de minha infância, estudei no Colégio São Francisco de Sales, da Ordem de Dom Bosco. Todavia, o tempo foi bastante para tornar-me um dos muitos admiradores do respeitado educador de Turim. Erigiu uma pedagogia com louvável benefício para os seus bericchini, jovens largados na vida em uma Itália pobre, que se unificava sob a batuta da astúcia diplomática (será redundância?) do Conde de Cavour (1810-1861), da pertinácia de Mazzini (1805-1872), do espírito aguerrido de Garibaldi (1807-1882). Dizia o célebre taumaturgo nascido em Becchi: “Um grandioso acon¬tecimento se está preparando no céu para fazer pasmar as gentes. (...) Far-se-á uma grande reforma entre todas as nações, e o mundo irá misturar-se como um oceano”. (...)

O Brasil é uma grei globalizante

Volvendo os olhos para o nosso país, repleto de descendentes de imigrantes e, também, de migrantes esperançosos de que finalmente sejam integrados no melhor do seu tecido social, confirma-se a evidência de que possui um dos mais extraordinários povos do orbe, e com características privilegiadas, em virtude de sua extraordinária miscigenação. É uma grei... globalizante...
Pietro Ubaldi (1886-1972), filósofo italiano, aqui chegado no início da década de 1950, soube ver o que outros começam a perceber agora: “O Brasil é a terra clássica da fusão de raças, é o melting pot em que tudo se mistura. E sabemos que a natu¬reza se regenera na fusão de tipos diversos, ao passo que o princípio racista isolacionista é antivital (...)”.
Apesar da inópia à espera de ser definitivamente exorcizada, na Terra de Santa Cruz subsiste a grandeza que lhe tem permitido manter o milagre de sua unidade geográfica, idiomática, e expresso na capacidade de sobreviver.
Ah! A extrema violência de hoje?! Será que a culpa é do povo ou da senzala que não foi de todo desmontada? É da globalização? Antes foi do quê? Com a palavra, o matemático germânico Leibnitz (1646-1716): “Sempre tive por certo que, se refor¬mássemos a educação da mocidade, conse¬gui¬ría¬mos modificar a linhagem humana”.
Mas em que bases? Hitler (1889-1945) também queria alterá-la... O escritor francês Montaigne (1533-1592) nos oferece a resposta: “Cuidamos apenas de encher a memória e deixamos vazios o entendimento e a consciência”.
Isto é, além de instruir, urge ecumenicamente espiritualizar a grei globalizante, que singulariza um caminho novo para o mundo. Quem viver verá! O sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987) proclamava que “o Brasil precisa descobrir o Brasil”.

Alfabetização

Aproveito para compartilhar a boa notícia que nos chega da Agência Brasil: cerca de 2 milhões de jovens e adultos participarão do programa Brasil Alfabetizado, conforme informa Amanda Cieglinski. Destaca a jornalista: “O número ultrapassa a meta prevista para 2008 pelo Ministério da Educação (MEC) que era de 1,3 milhão. A expectativa de atendimento proposta por estados e municípios que aderiram ao programa até o último dia 11 prevê o ingresso de novos alunos ainda este ano”.
Como brasileiros, torçamos e batalhemos para que o nosso país vença os obstáculos e alcance ótimos resultados no campo fundamental da educação.

Combate ao racismo

O jornalista Ancelmo Gois, na sua coluna em “O Globo” (3/11), revela que “o ator Lázaro Ramos é o protagonista de um novo comercial que o Unicef produz para combater o racismo contra crianças. O filme chama a atenção para as diferenças sociais entre crianças negras e indígenas, mostrando que a pobreza atinge 63% das indígenas e 59% das negras. Mostra ainda que, das 660 mil crianças fora da escola, 70% são negras”.
Barbaridade!


José de Paiva Netto — Jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@uol.com.br — www.boavontade.com