21.11.08

A noite em que Londrina aplaudiu Oscar



Rogério Fischer/Sebrae


O que a trajetória de um jogador de basquete tem a ver com a saúde de uma empresa? Será que a rotina de um atleta pode ter alguma serventia para o dia-a-dia de um empresário? Aos 50 anos de idade, 32 deles em quadra, após 49.737 pontos assinalados em 1.615 jogos e uma lista interminável de títulos e recordes nacionais e internacionais, o agora palestrante Oscar Daniel Bezerra Schmidt acredita que sim.

“É necessário, primeiro, visão, ou seja, definir um objetivo. Em segundo lugar, decisão: você não pode fugir da responsabilidade, a vida é feita de decisões. Em terceiro, time: você pode, vez ou outra, ganhar um jogo sozinho, mas um campeonato você só ganha se tiver uma boa equipe. Depois, obstinação: não fui o melhor jogador do planeta, como havia planejado, mas treinei como ninguém, mais que qualquer um, e me orgulho disso. E, por fim, paixão: não basta gostar de basquete, tem de ser apaixonado por ele. Imagino que no mundo corporativo deva ser a mesma coisa.”

Foi essa a resposta dada por Oscar a um grupo de jornalistas de Londrina que o entrevistou no camarim do Teatro Marista, pouco antes da palestra que fez a cerca de mil pessoas, quinta-feira à noite, por conta da Semana da Pequena Empresa, promovida pelo Sebrae/PR. Naquele encontro com a imprensa, além de reafirmar os conceitos que o fizeram vencedor, o maior ídolo do basquete brasileiro falou sobre o que mais gosta e entende: basquete.

Criticou a conduta da Confederação Brasileira da modalidade, defendeu o fortalecimento de uma liga de clubes independente e defendeu-se, enfaticamente, dos momentos conturbados que viveu na cidade há uma década, por conta de decisivos confrontos dos times que defendia com a equipe local, pelos Campeonatos Brasileiros da época.

Mais de uma vez ele atuou na quadra de um Ginásio Moringão lotado por uma torcida hostil – o então técnico londrinense Enio Vecchi chegou a declarar que Oscar seria recebido a bala na cidade. Mais de uma vez ele foi xingado em coro por 8, 12, 15 mil pessoas, por supostos favorecimentos da arbitragem. Em 1997, 1998, era inimaginável Oscar Schmidt andando pelas ruas de Londrina sem que estivesse protegido por um batalhão de seguranças. Se deixasse o hotel e fosse a alguma loja do Calçadão, por exemplo, muito provavelmente algum maluco desrespeitaria seus 2,05 metros de altura.

Foram momentos em que a cidade verdadeiramente odiou Oscar Schmidt.

Se, porém, ainda havia algum resquício de animosidade entre o londrinense – que viveu apaixonadamente aquela fase áurea do basquete local, nas vitórias e nas derrotas – com o homem que jogou cinco Olimpíadas, tudo foi dissipado quando ele adentrou o palco do Teatro Marista. Foi ruidosamente aplaudido por uma platéia composta por empreendedores, mas também, muitos estudantes, professores universitários e curiosos em geral.

Em cena, Oscar deu um show. Simpático, exibia seu uniforme oficial: tênis, calça jeans e uma camiseta da seleção brasileira de futebol, com seu nome e o número 14 nas costas. Arrancou gargalhadas com suas fotos antigas e suas histórias de vida, recheadas de expressões e palavrões que fizeram parte de sua rotina de jogador.

Em várias ocasiões, deixou a platéia emocionada – em especial quando relembrou, sempre com a ajuda de imagens, a conquista do Pan-Americano de 1987 sobre os então imbatíveis EUA em plena Indianápolis e, no último capítulo da palestra, com a história do professor de educação física Hugo da Costa, que sagrou-se vice-campeão colegial do Mato Grosso do Sul com uma equipe de garotos carentes que carpiram a própria quadra num terreno baldio de Ponta Porã. Ao final, foi aplaudido de pé, por vários minutos. Sentado no beiral do palco, exerceu seu lado boa-praça, atendendo inúmeros pedidos de autógrafo e poses para fotos.

Uma noite inesquecível, em que a cidade verdadeiramente apaixonou-se por Oscar Schmidt.