14.12.08

Vou falar de eunuco

VICENTE LUGOBONI

Já li texto de pelo menos dois líderes evangélicos do Brasil declarando que um homossexual evangélico é chamado para ser eunuco. Será que o homossexual cristão pode ser considerado um “eunuco por amor ao Reino de Deus”? O movimento gay tem procurado fazer uso de todos os tipos de recursos teológicos a fim de “provar” que não há condenação bíblica para a homossexualidade. Um dos recursos é a utilização do termo eunuco. Numa entrevista, colocou-se a seguinte questão: para Luiz Mott, considerado o mais importante militante do movimento homossexual no Brasil: “O crescimento do homossexualismo e sua maior aceitação por parte da sociedade tendem a alterar a visão evangélica mais ortodoxa, segundo a qual o comportamento gay é pecado e abominação contra Deus”. Mott respondeu:
"Sim, os cristãos, devem respeitar o ensinamento de Jesus de que há eunucos que assim nasceram do ventre de suas mães. Eunuco é um eufemismo usado por Cristo para se referir aos amantes do mesmo sexo, ainda que o termo “homossexual” só foi inventado em 1869. Hoje a genética comprova cada vez mais a naturalidade da orientação sexual: portanto, faz parte dos planos do Criador também a existência de seres humanos com orientação homossexual… Abominação é o desamor, é não escutar a voz do Espírito Santo, que através da exegese, da genética, da antropologia, garantem a normalidade e universalidade do amor homossexual. Homossexualidade é amor, tão puro e verdadeiro como o que o Rei Davi sentiu por Jonas: “teu amor me era mais delicioso que o amor das mulheres!”
Em primeiro lugar, vamos ver o que Jesus mesmo diz:
“Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos por causa do Reino dos céus. Quem pode receber isso, que o receba”. (Mateus 19:12 RC)
Outra versão torna as palavras de Jesus ainda mais claras:
“Pois há razões diferentes que tornam alguns homens incapazes para o casamento: uns, porque nasceram assim; outros, porque foram castrados; e outros ainda não casam por causa do Reino do Céu. Quem puder, que aceite este ensinamento”. (Mateus 19:12 BLH)
O eunuco pode ser o homem que nasce sem a capacidade natural de ter relações sexuais e gerar bebês (como, infelizmente, às vezes ocorre com pessoas que nascem com graves deficiências nos órgãos genitais ou nascem sem esses órgãos). Tal caso não se aplica ao homossexual, que pode tanto ter relações sexuais normais quanto gerar bebês, se optar por um casamento natural.
Quando fala de eunucos, Jesus sem dúvida se refere à situação infeliz dessas pessoas. Ele também se refere às pessoas que tiveram uma experiência traumática como a de Daniel, que foi castrado à força e assim se tornou eunuco na Babilônia. E ser eunuco pelo Reino de Deus se aplica a todos os que por livre vontade deixam de casar a fim de servir melhor o Senhor Jesus. Jeremias é um exemplo: ele não se casou por amor ao seu trabalho profético dirigido por Deus.
Portanto, eunuco pode ser o homem que nasceu sexualmente deficiente, ou o homem que foi castrado ou ainda, figurativamente, o homem que renuncia ao casamento a fim de se dedicar inteiramente ao trabalho do Reino de Deus, conforme a orientação de Paulo em 1 Coríntios 7:25-26,32-33. Nessa última definição, Jesus não menciona que o homem se torna eunuco para não pecar sexualmente. Ele se torna como um eunuco no sentido de que evita o casamento e todas as suas imensas responsabilidades a fim de que possa dedicar sua atenção e energias exclusivamente para trabalhar para Deus.
João Batista foi um “eunuco” pelo Reino de Deus, já que todo seu tempo era exclusivamente empregado no seu intenso ministério profético. Ele renunciou ao casamento para se dedicar à missão de anunciar a vinda do Messias. Ele não tinha tempo para nada, a não ser os interesses de Deus. Assim, o eunuco pode ser um homem que renuncia ao casamento a fim de servir a Deus de modo mais completo. Alguns cristãos conseguem viver intensamente para Deus sem casamento. É uma capacidade que Deus lhes deu. Paulo, que não era casado e trabalhava para Deus com muito amor, declarou: “Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um de uma maneira, e outro de outra”. (1 Coríntios 7:7 RC)
Agora, como interpretar que um homossexual pode ser eunuco por amor ao Reino de Deus? Será que também poderíamos incluir nessa interpretação um assassino não matar por amor ao Reino de Deus? Ou um adúltero não adulterar por amor ao Reino de Deus? Ou um pedófilo não violentar crianças por amor ao Reino de Deus? Faz sentido pensar dessa forma?
Seria correto colocar na categoria de eunuco pelo Reino de Deus um indivíduo cuja identidade, desejos e sentimentos sexuais são caracterizados pela antinatural idade? Eunuco por amor ao Reino de Deus é o homem que convive a vida inteira com sentimentos e desejos homossexuais e os reprime? Ou é o homem que se dispõe a conviver com o chamado de se entregar completamente para Deus e seu serviço?
Os homossexuais são iguais a quem?
Uma revista evangélica agrupou condições humanas aparentemente no mesmo nível: “O homem e a mulher [que são iguais em valor natural], o jovem e o adulto que são iguais em valor natural, o hetero e o homossexual…” Em que sentido o homem e a mulher sexualmente natural poderiam ser colocados no mesmo nível de um indivíduo que tem sentimentos ou práticas antinaturais? Se há uma igualdade tão parecida assim, então os ativistas gays não estão com a razão quando utilizam o argumento da igualdade para exigir cada vez mais direitos e privilégios especiais para seu comportamento? Assim, pouco adiantaria condenar um comportamento sexual desaprovado pela Palavra de Deus, porém aceitar uma igualdade entre o ser humano sexualmente natural e o ser humano sexualmente antinatural.
Ser homem, mulher, jovem, adulto e heterossexual é condições humanas normais que não caracterizam nem direta nem indiretamente nenhum tipo de anormalidade ou antinaturalidade. Tal, porém, não é o caso com relação à homossexualidade. Homossexual é o indivíduo cuja característica de vida é a prática e/ou atração por indivíduos do mesmo sexo. Essas práticas e/ou atrações são totalmente antinaturais.
Certamente, sem intenção maldosa a revista acabou cometendo um equivoco, dando a impressão de normalidade aos homossexuais, pois os colocou na categoria de condições humanas naturais que não designam em si atividade ou estado de pecado. Contudo, quando coloca os homossexuais em categorias humanas, a Palavra de Deus faz questão de apresentá-los juntamente com condições humanas diretamente envolvidas em identificações e condutas contrárias à vontade de Deus.
Embora os ativistas gays lutem muito para que os homossexuais sejam colocados lado a lado junto com os homens sexualmente naturais, como se houvesse entre eles apenas diferenças insignificantes entre dois grupos normais, a Bíblia jamais os coloca na categoria de seres humanos normais. Em 1 Timóteo 1:9 os homossexuais aparecem com outros indivíduos “normais” como eles: indivíduos que desrespeitam a lei e a ordem, criminosos, assassinos, seqüestradores, etc. Essa é a lista de problemas terrenos em que, conforme Paulo, os homossexuais podem ser normalmente colocados.
Em 1 Coríntios 6:9-10, os homossexuais são colocados em outra lista em que há indivíduos que, de acordo com Paulo, não têm o direito de entrar no Reino de Deus: adúlteros, idólatras, ladrões, beberrões, difamadores, etc. Assim, na categoria de indivíduos que violam as leis e a vontade de Deus, os homossexuais são considerados normais.
Vê-se que, no lado espiritual, o homossexual recebe condenação no que se refere à eternidade. Pelo lado terreno, ele recebe condenação no que se refere às leis humanas que têm a responsabilidade de proibir e castigar condutas erradas e antinaturais.

Vicente Lugoboni
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