9.2.09

Crime de terceiro grau

ANTONIO CARLOS MORETTI


Num momento quando o povo assalariado (ou não) praticamente é o penico do chamado estado de direito, uma instituição pública maringaense que deveria ser exemplo de honestidade pratica impunimente crime contra a economia popular.

Trata-se da toda gloriosa Universidade Estadual de Maringá (UEM). Isso mesmo a UEM.

Somente num país como o Brasil tal coisa pode acontecer sem que nenhuma atitude seja tomada e sem que as pessoas lesadas tenham sequer o direito de reclamar.

Como todos sabem, a partir de alguns anos, a UEM realiza dois vestibulares anuais (um de inverno e outro de verão). Acontece que o número de vagas nunca mudou. O que a gloriosa “fábrica do saber” fez foi dividi-las para legitimar o crime contra o bolso de gente, a maioria pobre, que luta às duras penas para pagar cursinho e a taxa escandalosa que é cobrada pelo exame.

No curso de Pedagogia matutino, por exemplo, a UEM disponibiliza 40 vagas por ano. Vinte são selecionadas no vestibular de inverno e vinte no de verão. Todos os classificados começam a estudar na mesma data, na mesma sala.

Um estudante pobre, que se esforça para passar nas provas e que fica no 21º lugar está descartado. Perde o dinheiro do cursinho, da taxa do vestibular e de todos os outros gastos, inclusive de energia dele e da família, porque a universidade quis transformar o vestibular em um imoral caça-níqueis.

Esse estudante, dificilmente voltará para o vestibular seguinte. Sem contar a falta de dinheiro, estará completamente desmotivado para uma nova rodada do jogo que ele já sabe qual será o resultado. Como não tem como perambular pelo Brasil em busca de outras escolas públicas, acaba na roleta das fábricas de diplomas que o governo FHC/Paulo Renato distribuiu aos montões.

Mas tem mais. A UEM não age sozinha. A tática dos dois vestibulares tem o dedo da Acim (Associação Comercial e Industrial de Maringá). Para os empresários, não basta que sejam dois. Eles têm que ser em datas pré-determinadas. Sempre em períodos quando o movimento do comércio é fraco. Afinal, nesse jogo, cada um tem que levar o seu quinhão.

Enquanto isso, a montanha de dinheiro que os dois vestibulares deixam nos cofres da instituição (vamos chamá-la assim por enquanto), ninguém sabe como é gasto. Mas não há necessidade de muitas pesquisas para descobrir. Basta ver o número dos cargos de confiança distribuídos em cada gestão para se imaginar por qual ralo sai essa dinheirama.

Basta também que se faça um levantamento do número de funcionários que estão “licenciados” ou estudando em cidades distantes e são contados como se estivessem trabalhando normalmente, quando na verdade, ficam apenas algumas horas por semana nos campi.

A sociedade não tem mais como aceitar isso. Precisa reagir. E o MP e o Judiciário não podem se omitir diante desse crime contra a economia popular. Praticado dentro das quatro cercas que deveriam proteger gente que ajuda a formar caráter e não criminosos.

Duro o termo? Não. Não porque dentro dessas quatro cercas onde deveriam estar cérebros a serviço da população, há um movimento de professores (isso mesmo, professores), que lutam contra a implantação das cotas sociais, que são garantidas em lei, mas que até agora não foram criadas.

Al Capone era um santo!