Um novo navio negreiro
LUIZ FERNANDO RODRIGUES
“Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais... “
(Navio Negreiro – Castro Alves)
Assistimos pasmos à investida dos vereadores desta cidade contra aqueles que os elegeram. Apoiaram o veto do prefeito a um projeto que eles mesmos haviam aprovado: que torna feriado o dia da Igualdade Racial em Maringá – 20 de novembro.
Vivemos um momento de crises: financeira, moral, ética, de autoridade, de poder, de confiança. Que voto de confiança tem estes legisladores da causa das minorias, em detrimento da maioria? E o que dizer daqueles que propuseram o projeto e votaram contra ele?
Sentimos na nossa pele negra o preconceito e o descaso dos coronéis desta cidade que, mais uma vez, nos chicotearam com seu ávido capital (ora derrotado pela crise do neoliberalismo, mas ainda presente em nossa sociedade desigual).
Os discursos eloquentes dos “nobres” edis deste pequeno império do Ingá, davam conta já no início daquela sessão de que algo magicamente tinha mudado em suas consciências (que não eram negras) ou em seus bolsos, não sabemos bem ao certo.
Pareciam ter se rendido aos encantos do imperador e à nobre burguesia da cidade.
Sequer o discurso de derrubada dos argumentos apresentados até então (uma pesquisa sem precedentes e a justificativa “i”legal) pelos vereadores de oposição chegaram até os ouvidos e corações daqueles que estavam na sala da Casa Grande.
De longe, dentro do aquário, o porta-voz do imperador assistia a tudo e orientava alguns “papagaios” da imprensa nas perguntas que deveriam ser direcionadas aos presentes na plenária. A burguesia, em minoria, à frente nas primeiras cadeiras sorria cinicamente àqueles que atrás estavam lutando por um dia em que fossem lembrados como realmente são: homens e mulheres livres.
Mas a chibata novamente soou, e desceu forte pelas mãos daqueles que há poucos dias haviam aprovado a alforria e agora, se juntam aos opressores para defender o capital e banalização do/a trabalhador/a.
O navio continua sua rota e nós, mesmo com a carta de alforria nas mãos, continuamos a viver o açoite do chicote a cada dia, porém sem perder o horizonte utópico, o sonho de uma sociedade em que a consciência (seja ela negra, mulata, branca, amarela) seja respeitada e digna.
* Administrador, funcionário público estadual, secretário de Saúde e Previdência da APP Sindicato – Maringá, assessor da Pastoral da Juventude e membro do Conselho de Saúde de Maringá.
“Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais... “
(Navio Negreiro – Castro Alves)
Assistimos pasmos à investida dos vereadores desta cidade contra aqueles que os elegeram. Apoiaram o veto do prefeito a um projeto que eles mesmos haviam aprovado: que torna feriado o dia da Igualdade Racial em Maringá – 20 de novembro.
Vivemos um momento de crises: financeira, moral, ética, de autoridade, de poder, de confiança. Que voto de confiança tem estes legisladores da causa das minorias, em detrimento da maioria? E o que dizer daqueles que propuseram o projeto e votaram contra ele?
Sentimos na nossa pele negra o preconceito e o descaso dos coronéis desta cidade que, mais uma vez, nos chicotearam com seu ávido capital (ora derrotado pela crise do neoliberalismo, mas ainda presente em nossa sociedade desigual).
Os discursos eloquentes dos “nobres” edis deste pequeno império do Ingá, davam conta já no início daquela sessão de que algo magicamente tinha mudado em suas consciências (que não eram negras) ou em seus bolsos, não sabemos bem ao certo.
Pareciam ter se rendido aos encantos do imperador e à nobre burguesia da cidade.
Sequer o discurso de derrubada dos argumentos apresentados até então (uma pesquisa sem precedentes e a justificativa “i”legal) pelos vereadores de oposição chegaram até os ouvidos e corações daqueles que estavam na sala da Casa Grande.
De longe, dentro do aquário, o porta-voz do imperador assistia a tudo e orientava alguns “papagaios” da imprensa nas perguntas que deveriam ser direcionadas aos presentes na plenária. A burguesia, em minoria, à frente nas primeiras cadeiras sorria cinicamente àqueles que atrás estavam lutando por um dia em que fossem lembrados como realmente são: homens e mulheres livres.
Mas a chibata novamente soou, e desceu forte pelas mãos daqueles que há poucos dias haviam aprovado a alforria e agora, se juntam aos opressores para defender o capital e banalização do/a trabalhador/a.
O navio continua sua rota e nós, mesmo com a carta de alforria nas mãos, continuamos a viver o açoite do chicote a cada dia, porém sem perder o horizonte utópico, o sonho de uma sociedade em que a consciência (seja ela negra, mulata, branca, amarela) seja respeitada e digna.
* Administrador, funcionário público estadual, secretário de Saúde e Previdência da APP Sindicato – Maringá, assessor da Pastoral da Juventude e membro do Conselho de Saúde de Maringá.
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